27 de novembro de 2006

BR-174 - ILHA DE MARGARITA

Você já foi a Margarita pela estrada? Não! Então vá enquanto é possível.
Depois de convencido por alguns amigos e intimado pela esposa, aceitei a idéia de ir até a Ilha de Margarita por meio da estrada. Fomos agora em novembro de 2006 pela primeira vez. Saí de Manaus avisado de que iria enfrentar uma BR-174 em condições precárias. Confesso que foi o meu primeiro estresse da viagem. Condições precárias é pouco para traduzir o que vivenciamos ao longo dessa rodovia, de importância estratégica para o amazonense que gosta de um bom lazer nos fins de semana (Presidente Figueiredo) e que precisa de uma opção de férias e praia (Margarita) mais viável e compatível com a sua renda. Porém, antes de continuar falando da BR-174, eu gostaria de fazer alguns comentários.
Até Pacaraima, fronteira Brasil/Venezuela, é uma viagem de muito estresse e tensão. A preocupação, em função da buraqueira, é de você chegar com o seu carro em condições de enfrentar o resto da viagem. Felizmente, ao entrar na Venezuela, você em poucos instantes tem automaticamente três grandes alegrias. A primeira e a segunda refletem no bolso, ou seja, o preço da gasolina venezuelana e a qualidade das carreteiras venezuelanas. A terceira alegria é a paisagem deslumbrante e encantadora da Grande Savana. Uma obra de Deus para ser contemplada infinitamente com os olhos, a alma e o coração.
Como marinheiro de primeira viagem você acaba passando por outros momentos de estresse até chegar ao seu destino. Ora errando o caminho aqui e acolá, e ora tendo que enfrentar o trânsito maluco das cidades mais populosas que estão no caminho.
Quanto a Margarita, eu assino embaixo. De fato é um paraíso que merece ser conhecido. Praias maravilhosas e para todos os gostos. A vantagem de ir de carro próprio é que você pode circular, explorar e aproveitar mais intensamente o que a Ilha tem a oferecer.
Porém, tudo isso pode ficar inviável se a nossa BR-174 continuar no ritmo de destruição em que se encontra. É uma vergonha! Essa estrada é estratégica para os Estados de Roraima e Amazonas. Os carreteiros que fazem viagem para Roraima podem ser considerados verdadeiros heróis. Com certeza boa parte dos lucros com os fretes está indo para a recuperação e manutenção das carretas. Fazer seguro da carga deve estar cada dia mais caro, pois crescem dia-a-dia os riscos de viajar nessa estrada entre Manaus e Boa Vista. A população do Estado de Roraima é quem mais está sofrendo com a destruição dessa rodovia, com fretes e seguros cada dia mais altos. É simplesmente imoral!...
Falar em operação tapa-buraco na rodovia BR-174, depois de Presidente Figueiredo, é uma enganação. Inúmeros trechos estão simplesmente destruídos e não tem tapa-buraco que dê jeito. Sem falar que são raríssimas as oportunidades em que se vê alguma equipe trabalhando nesse sentido. A desculpa a gente já conhece. É a de sempre – as chuvas. Mas placas indicando obras e serviços na estrada não faltam. Difícil é saber onde e quando estão acontecendo. Na verdade são placas que só servem para fazer marketing e propaganda de obras e serviços que, se acontecem, simplesmente devem estar sumidas em meio à infinidade de buracos, valas e crateras que estão dominando a nossa BR-174. Essas placas, aliás, deviam anunciar um endereço eletrônico e um telefone para onde os verdadeiros usuários da rodovia possam encaminhar suas reclamações e denúncias sobre as condições da estrada e em particular com relação aos serviços contratados com o dinheiro do contribuinte. Isso ninguém lembra de fazer, mas fica aqui a sugestão.
Outra situação crítica é com relação à sinalização ao longo da rodovia. Viajar a noite, acredite, é risco quadruplicado. Quando existe placa sinalizadora, boa parte está camuflada em meio ao mato à margem da pista. Outras estão lá de pé, mas já não dizem nada, pois simplesmente foram consumidas pela ferrugem. A novidade é que surgiu agora a placa sinalizadora de aviso de buraco na pista. Uma maneira bem paidégua de dizer que não estão tapando os buracos, não sabem dizer quando pretendem tapar, tampouco vão indenizar os prejuízos de quem cair nos buracos por não prestar atenção no aviso. Tá lá a placa avisando. Se você cair no buraco – azar seu. Maravilha!
Tudo isso é fruto da nossa omissão como cidadãos, que aceitamos pacificamente que essas coisas aconteçam. Não podemos permitir que a nossa BR-174 tenha o mesmo destino da BR-319. Do jeito que vai, num curto prazo de tempo o tráfego na BR-174, principalmente para carros leves, vai estar impraticável. A sociedade precisa se mobilizar e não deixar que isso aconteça. Precisamos criar um movimento em defesa da BR-174 e exigir das autoridades competentes, medidas e ações objetivas e transparentes para a sua recuperação. Tapa-buraco para salvar a BR-174, acreditem - é só enganação!

Mau Exemplo!...

A mídia local (jornal) há bem poucos dias mostrou a situação de uma viatura da polícia rodoviária no momento em que agentes dessa organização faziam uma operação na estrada, de modo a identificar e punir os carros em situações de irregularidade. Perfeito! Irregularidade é para ser punida mesmo.
O que não pode acontecer é a polícia rodoviária dar o mau exemplo, fazendo a operação com um veículo em precárias condições. Pior ainda quando, para justificar as condições precárias do carro oficial, o agente rodoviário engrossa a voz como forma de intimidação e ainda sai com desculpas que só servem para brincar com a inteligência do cidadão.
Ora, se a polícia rodoviária se acha no direito de executar as suas obrigações com uma viatura em péssimo estado, sob a alegação fajuta de que o governo federal não repassa os recursos para manutenção, isso implica dizer que qualquer cidadão, desempregado, por exemplo, também tem o direito de andar com o seu carro em condições precárias, pelo motivo justo de que sem emprego e sem salário não tem como fazer a manutenção e não pode parar de correr atrás de um novo emprego.
A questão, lamentavelmente, é que a lei só funciona para punir o cidadão. Hoje existe no Brasil inteiro uma verdadeira máquina feroz de fazer dinheiro por meio de taxas e multas de trânsito, cuja arrecadação milionária, com certeza, não volta para o sistema, muito menos para a manutenção das viaturas oficiais. Em contrapartida, todos os anos, o cidadão brasileiro é obrigado a renovar e pagar caro pela licença do seu carro. Se bobear, além da multa o cidadão corre o risco de ter o seu carro recolhido. E quando conseguir liberar o carro, ainda corre o risco de recebê-lo depenado, pois na maioria dos casos a garantia da segurança e integridade do veículo enquanto este estiver retido, também é precária.
Mas, façamos justiça. Não só a polícia rodoviária, mais muitas outras organizações públicas, circulam com seus veículos/viaturas em precárias condições e fica por isso mesmo. Não faz muito tempo, uma viatura da perícia de trânsito, por exemplo, foi atender uma perícia na estrada Manaus/Itacoatiara (AM-010) e, chegando lá, o perito teve que arrumar uma lanterna e uma fita métrica emprestada. Como se vê, a precariedade não é só com relação às viaturas – ela é generalizada. Ninguém é punido, ninguém é responsabilizado e a sociedade acaba aceitando esse tipo de mazela e se omitindo de cobrar das autoridades que dêem o bom exemplo. Nós (cidadãos) estamos no dever de cumprir as regras e normas de trânsito, porém também estamos no direito de exigir das organizações que atuam nessa área que dêem o bom exemplo. O Ministério Público com certeza deve estar acompanhando essas notícias e a expectativa é de que atuem em defesa da sociedade, exigindo que as organizações públicas da área de trânsito sirvam de bom exemplo e seus dirigentes sejam punidos (um sonho que pode ser realidade – basta querer) por não manterem suas viaturas de conformidade com a lei que eles aplicam implacavelmente nas esquinas e nas estradas contra o cidadão infrator.