5 de outubro de 2007

LINHA 119

Podem até achar que é encrenca de minha parte. Afinal, só tenho feito comentários ruins sobre o sistema de transporte coletivo de nossa Manaus. Mas, nesse caso que vou relatar, antes mesmo de iniciar, eu faço um apelo: acreditem! eu juro - é verdade!...

Na rota 119, da empresa chamada Soltur, quem quiser subir - tem que descer primeiro.

Calma! Eu explico. Uma amiga jornalista, que me pediu para resguardar a sua identidade, dia desses saiu para uma missão e, ao terminá-la, deu conta de que havia ficado sem uma carona para ir para casa.

Acostumada com os batentes da vida, a amiga tratou então de dar o seu jeito. Pegou suas coisas e saiu no rumo da parada mais próxima. Quando já estava se aproximando do ponto, olhou para trás e avistou o 119, ou seja, o coletivo que faz a rota que lhe deixa praticamente na porta de casa. Para não perder o ônibus, tratou de apressar o passo. Nesse momento, olha para o lado e percebe que uma senhora de bem mais idade, passando dos 60, também apressa o passo no rumo da parada, provavelmente com o mesmo objetivo de não perder o 119. A cada passada que dava, minha amiga sentia que ia ficando para trás em relação àquela senhora. De repente, a preocupação de perder o ônibus e a novela das oito, se tornara algo irrelevante diante da triste constatação de que estava perdendo uma disputa (caminhada) com uma sexagenária. E perdeu! Só não foi pior porque deu tempo ainda de entrar no ônibus. Ufa!

Esbaforida, faltando fôlego até para cumprimentar o cobrador, a única coisa que minha amiga queria naquele momento era um lugar para sentar dentro do coletivo. Sabia que o tempo até chegar à sua casa seria suficiente para se recuperar do cansaço físico, mas o mesmo não poderia dizer da inesperada derrota para a senhora sexagenária. Depois de pregar o troco e passar pela roleta, senta no primeiro banco que encontra. Quando mal dá o primeiro suspiro de alívio do cansaço, escuta uma voz que diz:

- Vamos lá gente! Desçam todos do ônibus porque ele está sem força para subir a ladeira. Era o cobrador dando ordem para que todos descessem do coletivo para que o motorista pudesse subir a tal ladeira e esperar os passageiros lá em cima. E foi isso mesmo o que aconteceu.

Eu, cá com meus botões, pensei: - será que a minha amiga, subindo a ladeira da Leonardo Malcher até chegar no sinal com a Ferreira Pena, dessa vez ela conseguiu ser mais ligeira do que a senhora sexagenária? Pior que não!

A desculpa para a segunda derrota para a sexagenária, no mesmo dia e em menos de 10 minutos entre uma corrida e outra, é que a mesma parecia já conhecer o motorista, o cobrador e a mazela do ônibus da rota 119. Mal o cobrador falou - vamos descer... - e a sexagenária já estava de pé na porta do coletivo, pronta como se estivesse concentrada na primeira fila da linha de largada de uma maratona. Abriu a porta e a senhora desembestou ladeira acima, puxando aquela fila de passageiros cansados de mais um dia trabalho e, pelo jeito, conformados com o tratamento que recebem das empresas e do poder público.

Esse episódio, agora falando sério, serve para mostrar o grau de respeito e de responsabilidade que esse sistema que aí está implantado (poder executivo + empresas) dedica aos usuários do sistema de transporte coletivo da cidade de Manaus. Colocar um ônibus que não consegue subir uma ladeira para transportar pessoas que são tratadas como bobas e que acabam tendo que se sujeitar a subir e descer dos coletivos a qualquer comando do cobrador, é algo que deveria merecer maior atenção, por exemplo, da Câmara Municipal de Manaus, cujo dever, entre outros, está o de fiscalizar esse tipo de serviço público que, em nossa cidade, passou a ser uma pouca-vergonha, temperada com muita conversa fiada e malandragem. Qualquer dia desses, do jeito que vai, o cobrador além de dar ordem aos passageiros para descer, só vai deixar subir de volta aqueles que ajudarem a empurrar. E fica por isso mesmo!

30 de setembro de 2007

Regime especial para bandido.

São Paulo e o Brasil inteiro mais uma vez assistem horrorizados um crime bárbaro praticado por bandido cumprindo pena em regime especial (semi-aberto e/ou aberto). Duas crianças foram torturadas, abusadas sexualmente e depois assassinadas. Quantos crimes são praticados todos os anos por bandidos de extrema periculosidade, que são colocados para cumprir a pena em regime semi-aberto ou aberto? Pensando bem, são crimes que poderiam ser evitados, mas que acontecem porque existe uma lei que oferece a esses bandidos a chance de passar o dia nas ruas, voltando apenas para dormir na cadeia e ter o tempo necessário para planejar a ação criminosa do dia seguinte.

A questão maior é que não se vê disposição alguma das autoridades de discutirem a maneira como essa lei vem sendo aplicada, dando chance ao bandido perigoso, principalmente, de sair às ruas para cometer barbaridades, num país onde nenhum Estado oferece ao cidadão de bem a segurança necessária para se proteger dos ataques desses animais que deixam diariamente as cadeias para caçar suas vítimas. Alguém tem que dar um basta nisso.

Qual são os critérios aplicados para conceder regime especial para esses bandidos? Isso nunca ficou claro para a sociedade. Os esclarecimentos, pelo menos aqueles que eu ouvi até hoje, são ridículos, nada esclarecedores e nada transparentes. É só muito oba-oba, muita filosofia e discurso difícil (proposital, para ninguém entender mesmo). Pergunto: aplica-se o regime aberto ou semi-aberto em função estritamente do que está escrito na lei? Se for assim, então a barbaridade do crime é ainda mais estarrecedora. Como explicar conceder regime especial a bandidos que não passam antes por uma avaliação psicológica e/ou psiquiátrica séria, realizada, obviamente, por pessoas com competência para tal. A impressão que temos é que essa avaliação não existe e, se existe, deve ser acumulada pelo juiz que concede o regime especial. Daí então, eis os resultados que estamos assistindo indignados, porém eternamente omissos, deixando a coisa acontecer e se repetir sempre, correndo inclusive o risco de sermos a próxima vítima. Não brincamos apenas de cidadão indignado. Na verdade vivemos brincando com a própria sorte, achando que esses bandidos colocados em regime especial vão sair às ruas e sempre encontrar, torturar e abusar dos filhos dos outros, mas nunca dos nossos.

A autoridade que concede regime especial a um animal como esse que matou as crianças em São Paulo, sem ter o resguardo de uma avaliação psicológica e/ou psiquiátrica séria do bandido, será que ele se sente bem achando que cumpriu apenas o que estava previsto na lei? Quando essa autoridade vai para casa e encontra os filhos vivos e felizes, será que lembra em algum momento que existe um pai e uma mãe que não tem mais essa alegria, pois os filhos foram barbaramente assassinados por um criminoso perigoso que estava solto nas ruas graças a uma decisão sua que levou em conta apenas o que está escrito na lei, sem levar em conta o perfil e as condições psiquiátricas do bandido premiado. Que lei é essa que vem premiando bandidos e ajudando na destruição de famílias de bem?

Quem se dispõe a fazer essa discussão com a sociedade? Quem aparece para mostrar a estatística nacional de crimes praticados por bandidos em regime especial e dizer quantos desses bandidos passaram por uma avaliação médica, psicológica e/ou psiquiátrica antes de usufruírem do regime? Quem paga pela dor das famílias vítimas de bandidos premiados com regime especial? Só o bandido? E quem o colocou de volta nas ruas sem levar em conta a sua extrema periculosidade? Vamos lá – quem mais ajuda a puxar essa discussão entre as autoridades e a sociedade, de modo a impedir que essa lei continue premiando bandidos perigosos e enlutando famílias de bem.