30 de junho de 2009

Um dia de Domingo!


Tirei o domingo para visitar com minha esposa alguns pontos tradicionais da nossa cidade, atingidos pelas águas da enchente. A primeira surpresa foi ver a quantidade de famílias que resolveram fazer a mesma coisa. O Centro da cidade estava lotado de carros e de muita gente curiosa.

Nas proximidades do relógio municipal, entre outras coisas, presenciei um cidadão já idoso, cabecinha branca, explicando com riqueza de detalhes como tinha sido a enchente que ele assistiu em 1953, quando tinha apenas 15 anos de idade. Eu nem nascido era! Aqueles que o acompanhavam ouviam atentamente suas histórias e até eu me interessei. É que neste mesmo ano de 1953, minha mãe e meu pai, Rosalina e Luiz Aguiar, cuidavam de um pequeno boteco bem em frente ao Porto de Manaus, que vendia cafezinho e lanche aos estivadores. Minha timidez falou mais alto e não me deixou perguntar nada, mas bem que eu ensaiei algumas perguntas do tipo:

- Com licença! O Senhor por acaso conheceu meu pai e minha mãe que vendiam cafezinho no boteco em frente ao Porto de Manaus? Poxa, legal! E aí, fale mais...

Terminei o passeio arrependido de não ter perguntado nada ao velhinho de cabeça branca e estarrecido com algumas coisas que me chamaram a atenção e eu conto a seguir.

Primeiro foi o mau cheiro dos esgotos nas proximidades do relógio municipal. Terrível! Fico imaginando como os lojistas, seus empregados e clientes conseguem passar o dia inteiro sentindo aquele cheiro desagradável. Ainda bem é que é por pouco tempo - creio eu!

A segunda coisa que me chamou a atenção, desta feito do outro lado da cidade, foi um varal com bóias plásticas que eu vi estendido nas proximidades da ponte do antigo Tarumã e que eu fiz questão de fotografar para ilustrar este meu comentário.

Pensei comigo mesmo:

- Quem compraria uma bóia para se banhar em água tão suja e poluída?

Na verdade não vi ninguém tomando banho com nenhuma bóia plástica igual ou parecida àquelas do varal. Nem mesmo com aquelas antigas bóias da minha infância, feitas de câmara de ar de pneus de caminhão. E, pelo que presenciei, se depender da meninada que mora nas casas invadidas pelas águas nas proximidades da ponte, e que ali estavam brincando e pulando dentro d’água na maior alegria e sem nenhuma preocupação com doenças ou poluição, o dono do varal das bóias plásticas com certeza não precisa voltar no próximo domingo. Não vai vender nada outra vez.

Fiquei ali por alguns instantes lembrando da minha infância brincando nas águas do Tarumã, na companhia de meus pais, irmãs e irmãos de criação. Ao mesmo tempo observava a quantidade de carros parando de qualquer jeito na lateral da pista e as pessoas descendo com seus celulares ou máquinas digitais nas mãos. Toda uma movimentação simplesmente para fotografar e/ou filmar mais de perto as casas invadidas pelas águas fedidas e poluídas do velho balneário, com as crianças se banhando em volta sem a menor preocupação. Animadas com a presença das pessoas filmando e fotografando, a meninada se mostrava ainda mais agitada e disposta a se exibir e correr riscos, disputando alegre entre elas o salto mais bonito ou a melhor pose para a fotografia dos curiosos que ali se aglomeravam.

Segui em frente muito triste e pensativo. No fundo todos nós somos culpados por não termos sido suficientemente responsáveis e competentes, de modo a oferecer aos nossos filhos e às crianças de hoje, pobres ou ricas, a mesma alegria e felicidade que nós tivemos, num passado não tão distante assim, quando nossos pais nos levavam ao balneário do Tarumã e nós passavamos o dia inteiro brincando, pulando e mergulhando felizes em águas correntes, puras e saudáveis. Resta-nos pedir perdão a Deus e à natureza por nossa imperdoável omissão.