25 de abril de 2010

Até o próximo sinistro!...

Omissão e hipocrisia têm limites. Pelo menos deveria ser assim. Acontece que, aqui por nossas bandas, a omissão e a hipocrisia costumam andar juntas e não têm limites. Fazem parte do cotidiano de muita gente. Vejamos o caso do prédio, dito histórico, que foi engolido pelo fogo na Sete de Setembro. Para muitos jovens desta cidade, só agora, com o prédio nu por ação do fogo que o consumiu, descobriram que ele fazia ou faz parte do contexto histórico da nossa cidade. Até então o prédio estava abandonado, em termos de preservação e segurança, pela omissão de seus proprietários e pela negligência do poder público. O prédio era todo ele tomado por placas de propaganda de ponta a ponta, sem nenhuma regra ou patronização, numa poluição visual onde o que menos importava ao dono e ao poder público, até prova em contrário, é que aquilo ali era um prédio histórico e que merecia ser preservado. Os próprios lojistas, vítimas do sinistro, declaram abertamente: a infraestrutura era precária, muita gambiarra, e simplesmente não havia uma fiscalização decente e responsável, tanto por parte dos proprietários quanto dos órgãos de controle.

A verdade é que o dito patrimônio histórico estava entregue a própria sorte. Está aí o resultado! Quem dá sopa para o azar não tem direito a escolher o castigo. Agora, depois de destruído, surgem indignados aqueles que no fundo são corresponsáveis de tudo o que aconteceu. Ninguém parece preocupado em descobrir se o incêndio foi criminoso ou não; ninguém fala em CPI para apurar as responsabilidades e punir os verdadeiros culpados, principalmente aqueles que deveriam zelar pelos prédios históricos antes de serem destruídos e não só depois. Ninguém fala em indiciar o dono do prédio por negligência na segurança e preservação do imóvel histórico. Desse jeito, meus caros, eu também quero ser dono de prédio histórico. Deixo pegar fogo e depois o poder público me ajuda ou arruma um parceiro com dinheiro para que eu possa fazer a restauração sem muito esforço ou sem meter a mão no bolso. Aliás, quem é mesmo que está pagando por tudo que está sendo feito para dar proteção e segurança à área de risco do prédio sinistrado? Eu sinto que essa grana está saindo do meu bolso, do nosso bolso de contribuinte. Será que seremos ressarcidos?

Louvável a mobilização para salvar o prédio. Todos querem a sua restauração. Alguns nem sabem o real motivo, mas querem também. Isso é muito bom. Mas, pelo amor de Deus, não queiram nos tratar a todos como bobos ou como otários. Henfil, já dizia: somos bobos, mas não somos otários. Até o próximo sinistro!