No mundo da música, principalmente quando o tema é compositores da
nossa MPB, algumas coisas precisam ser contadas ou lembradas às novas gerações.
Conversando esses dias com alguns jovens sobre música, eu resolvi brincar com a
turma. Perguntei se eles conheciam e/ou ouviam os cantores e compositores da
geração de seus pais, que com certeza estão todos na mesma faixa da minha
idade, entre 50 e 60 anos.
Rapidamente todos se manifestaram e revelaram as suas preferências. Um disse
adorar Chico Buarque e Caetano; outro que idolatra Vinicius de Morais; outro lembrou
Cartola, Roberto e Erasmo Carlos, e até confessou timidamente que estaria curtindo uma fossa danada
ouvindo as letras desses compositores na voz de Bethânia, Gal e Simone. O roqueiro da turma repetiu várias vezes o nome de Raul Seixas, Cazuza e Rita Lee, mas disse gostar também de Milton Nascimento e Gilberto Gil.
Maravilha! Fiquei feliz vendo aqueles rapazes falando com orgulho e
satisfação dessas pessoas ilustres e impagáveis da nossa música, mas de uma
geração diferente da deles.Vários outros nomes foram lembrados com o andar da conversa.
Resolvi então fazer uma "pegadinha" sabendo, entretanto, que o
tiro poderia sair pela culatra. Disse que concordava com todos eles, mas que o
meu cantor e compositor preferido não era nenhum daqueles que eles haviam
revelado. Declarei a minha paixão pelas letras e pelas músicas do cantor e
compositor Julinho da Adelaide.
Ficaram todos surpresos com a minha revelação. Afinal, quem é esse tal
de Julinho da Adelaide. Um deles arriscou e perguntou se eu gostava de samba,
pois com esse nome, poderia ser algum cantor e compositor de samba do morro carioca. Outro aproveitour e já foi dizendo – eu acho que esse aí é cantor e
compositor do estilo brega Reginaldo Rossi. Emendei dizendo que Reginaldo Rossi
era o compositor e cantor de uma das minhas músicas preferidas – A raposa e as
Uvas. Aproveitei e revelei também algo inédito: – foi dançando e cantando ao pé
do ouvido as músicas de Reginaldo Rossi que eu conquistei a minha mulher
Adriana Lisboa Rosa, filha do Armandão e da dona Rosa. Só não sei assegurar até
hoje o que de fato influenciou mais neste item para a conquista. Pode ter sido o meu estilo
pé de valsa, no dois para lá e dois para cá (com paradinha) que só eu sei o compasso, ou terá
sido a minha voz aveludada cantando ao seu ouvido: - sou metade sem você / mon amour, meu bem,
ma femme...
A dúvida sobre quem era Julinho da Adelaide seguiu frente. Combinamos que era proibido usar o celular para procurar na internet. Mas, enquanto tentavam adivinhar quem era Julinho da
Adelaide, um deles bancou o mais esperto e afastou-se para ligar do celular
para o pai. De repente, ele desliga o celular e grita na minha direção: - Já
sei! Já sei! É o Chico Buarque de Holanda.
Acabou o mistério. Julinho da Adelaide e Chico Buarque de fato são as mesmas pessoas. Na
época da censura, durante o regime militar, Chico, para driblar os elementos da
ditadura, adotou o apelido de “Julinho da Adelaide”. Foi graças a esse codinome
que Chico fez chegar aos brasileiros de sua geração, canções provocativas que
ajudavam as pessoas naquela ocasião a refletir sobre os males da ditadura. A Chico, resta-nos dizer com orgulho: - Obrigado Chico por você existir e ainda ser brasileiro que nem nós.