8 de setembro de 2006

Pelo jeito - abafaram!...

Há pouco tempo escrevemos um artigo falando dos estragos que foram causados a vários empreendimentos comerciais durante certa madrugada na cidade de Manaus. Para quem achava que poderia ter sido uma ação criminosa de marginais ligados ao PCC, veio então a surpresa: os estragos foram praticados na verdade por mauricinhos, também conhecidos como filhinhos de papai. Confiantes na importância e no poder do papai ou da mamãe, e certos da impunidade generalizada, principalmente entre aqueles que podem pagar por ela, esses “jovens delinquentes" resolveram se divertir na madrugada destruindo o patrimônio alheio. Bem pior do que isso é certos papais e mamães que acham isso normal - faz parte da juventude! No meu tempo, diria a minha avó - é falta de peia!...
Algumas colunas de jornais de Manaus bem que tentaram alguma coisa. Denunciaram em pequenas notas e cobraram explicações da polícia, principalmente. Nas entrelinhas deram conta de que entre esses delinquentes que praticaram o quebra-quebra na cidade, imaginem, tinha filhinho de juiz, tinha filhinho de empresário bacana, etc. Pelo menos numa coisa podemos ter absoluta certeza: são todos garotos delinquentes bem nutridos, frequentando boa escola, motorizados e "supostamente" bem educados.
Ao reler o artigo que fiz sobre esse assunto, eu lembrei do caso de uma mãe humilde da periferia que quando descobriu que o filho estava envolvido com marginais perigosos, foi pessoalmente entrega-lo para a polícia na delegacia mais próxima. No dia seguinte, impreterivelmente, estavam ela e o filho servindo de manchete na página policial de vários jornais. A verdade é que a sua coragem e determinação como mãe não foram suficientes para sensibilizar o delegado a não divulgar a ocorrência, tampouco suficiente para abafar e silenciar os repórteres que fazem plantão na porta das delegacias.
No caso que estamos comentando, gravíssimo sobre todos os aspectos, pelo jeito nem papai nem mamãe dos mauricinhos tiveram a mesma coragem e dignidade daquela mãe da periferia, que foi pessoalmente à delegacia entregar o filho, de modo a esclarecer e pagar pelo crime cometido. Mas, em contrapartida, as autoridades parecem terem se sensibilizado com o drama dos pais dos mauricinhos (foi só uma brincadeira de adolescentes) e até hoje, salvo engano, não divulgaram os resultados das investigações. Vai ver o processo está correndo sob segredo de justiça para não causar traumas nos adolescentes. Coitadinhos!...
A mídia, de sua parte, vem decepcionando. Não deu nomes, endereço, origem, tampouco contou qualquer história dramática sobre a vida noturna desses filhinhos de papai que resolveram brincar de destruir o patrimônio alheio desafiando a tudo e a todos.
Para vergonha e indignação de todos nós (até prova em contrário) – esses adolescentes delinquentes planejaram e executaram o que queriam - absolutamente confiantes na impunidade. E conseguiram!...

6 de setembro de 2006

Pão com Filé!...


O ano é 2002. Eu e Adamilton Mourão, que eu vou chamar de Dadá, participávamos da organização da primeira Feira Internacional da Amazônia – FIAM 2002. Estávamos na etapa chamada de pré-evento. Nossa tarefa, junto com companheiros do SEBRAE-AM, era divulgar a feira nos estados da região norte e incentivar as micro e pequenas empresas a participarem como expositores.

Numa dessas viagens, fomos a Cuiabá, no Mato Grosso do Sul. Desembarcamos já no final da tarde e fomos direto ao hotel. A programação de trabalho naquela cidade seria toda ela no dia seguinte.

Preenchemos as fichas no balcão e nos reunimos ali mesmo no saguão do hotel para decidirmos o que fazer naquela noite. De cara fui dizendo que não iria a lugar algum. Eu já tinha uma programação inadiável para aquela noite. Assistir na televisão a decisão da Copa Brasil entre o meu timão do Corinthians e o Brasiliense.

Os outros dois colegas do SEBRAE-AM que nos acompanhavam, conseguiram convencer Dadá a irem juntos comer num restaurante especializado em carne de carneiro. É evidente que Dadá não aceitou a programação por conta da carne de carneiro. Pão-duro que é, só concordou em ir junto quando garantiram a ele que o restaurante tinha também a opção do prato-feito. Depois, fiquei sabendo que ele  jantou uma cumbiquinha de sopa de mandioquinha com torradas, servida como entrada e cortesia da casa, ou seja, 0800. 

Depois de acertarem a hora para se encontrarem no saguão, subimos para os apartamentos. Eu e Dadá tínhamos um acordo de dividir as despesas de hotel durante as viagens precursoras. Por conta disso, optávamos sempre pelo apartamento stand. A ideia era economizar diárias para comer melhor e levar alguma lembrança para casa.

Chegando no apartamento, liguei a televisão para esperar o Jornal Nacional e Dadá foi tomar banho para se preparar para o jantar. Quando ia saindo do apartamento, eu lhe fiz um pedido:

- Bicho! Quando tu voltares trás para mim um sanduíche.

E do que é que tu vais querer? – perguntou ele sem reclamar.

- Trás um de sanduiche de filé e pede para caprichar.

- Mais alguma coisa!

- Para mim basta! Refrigerante não precisa. Tem aqui no frigobar.

Sem perguntar mais nada, Dadá foi embora cheirando mais do que filho de barbeiro. Nem parecia que estava indo atrás apenas de um prato feito. Mas, senti que antes de fechar a porta ele queria me perguntar alguma coisa. Afinal, eu havia lhe feito um pedido que ele ia ter que pagar, mas não lhe dei a grana para fazer isso. Foi proposital! Dadá pagar o lanche de alguém é algo raro. Nessas alturas, descendo no elevador, foi se perguntando: - será que eu vou pagar o sanduíche e ainda ter que dividir o refrigerante na conta do hotel? Esse é o Dadá – meu amigo mão-de-vaca.

Aquela noite de 2002 para mim, até determinada hora, foi inesquecível. Meu Timão foi Campeão e eu me juntei ao grito da maior torcida do mundo: Timãooooooooooo ê! ô! Timãooooooooooooo ê! ô!

Passada a emoção do jogo, fiquei a espera de Dadá com o meu sanduíche de filé. Terminou o Jornal da Noite. Terminou o Jô Soares, a fome foi aumentando e nada do sujeito chegar com o maldito sanduíche. O desespero era maior diante da enorme probabilidade dele chegar sem o sanduíche.

Nessas alturas, o meu arrependimento de não ter dado o dinheiro para o miserável comprar o sanduíche já era maior e mais doloroso do que a própria fome. Só não fiz promessa naquele dia por que a minha dívida com o Homem lá de cima estava no vermelho e o castigo poderia vir mais rápido do que o esperado.

De repente, a porta do apartamento se abre e entra o Dadá com um saco na mão. Era o tão esperado sanduíche que eu havia pedido às 19 horas e já eram 1:30 horas do dia seguinte.

No ato só encontrei uma frase para me expressar - Puta que pariu meo!

Dadá, cínico como sempre, olha para mim e diz:

- Tá vendo como são as coisas! Se eu tivesse esquecido de trazer tu ias agora dormir com fome.

Não respondi a provocação. Peguei o sanduíche, abri uma lata de refrigerante, sentei na beira da cama e tratei de matar quem estava me matando. Com a fome que eu estava, aquele era o melhor sanduíche de filé do mundo.

Mal acabo de morder o primeiro pedaço do sanduíche, Dadá senta de frente para mim, fica olhando para o meu sanduíche e, na maior cara-de-pau, sai com essa:

- Deixa eu provar um pedacinho?

Aí o sangue ferveu!  Brocado como eu estava, confesso que teria preferido que ele me chutasse a canela do que pedir um pedaço do meu sanduiche. O cara tinha acabado de chegar da rua e me vem com essa conversa de querer comer um pedaço do meu sanduíche. Dei-lhe a resposta merecida:

- Vai pedir um pedaço de sanduíche do Caralho. Deste aqui tu não vais comer porra nenhuma.

Mas o cara insistia –  poxa, e só um pedacinho! É só um pedacinho!

Senti que era mais uma provocação, o que ele sabe fazer bem feito. Resolvi continuar comendo meu sanduíche sem me estressar.

Acontece que quando acabei de comer, a sensação de fome simplesmente não havia passado. Pelo contrário! Só fazia piorar quando lembrava do filho de uma égua me pedindo um pedaço. Decidi então tomar uma atitude e comecei perguntando para o sujeito:

- Cara, onde foi que tu comprastes esse sanduíche?

Foi aí na frente do Hotel - responde ele. Tem dois carros de lanches. É o da beira da calçada.

- E quanto foi?

Baratinho, diz ele – Foi 2 reais.

Resolvi então me vestir para descer e comprar o sanduíche. Antes de sair pergunto da figura:

- Vais querer um sanduíche também?

Com a cara de leso, ele me responde - É né! Pode ser né! Trás um filézinho com bacon!

Desci e fui direto ao carro de lanche. O chapeiro já estava se preparando para fechar.

Dá para me atender amigo? – perguntei.

- Sim senhor! O que é que o Sr. manda?

- Dois sanduíches de filé para viagem caprichados. Um com bacon e outro sem bacon.

- Deixe comigo patrão - É prá já!...

Enquanto o chapeiro preparava os sanduíches, separei 4 reais trocados e fiquei esperando.

Na hora que o cara me entrega os 2 sanduíches embrulhados, passo a ele os 4 reais e agradeço.

- Obrigadão meu amigo! Viro as costas e, mal dou o primeiro passo, ouço aquela voz.

- Doutor, seguinte,  num é 4 real não! Os 2 sanduíches é 7 real.

Volto e argumento com o chapeiro:

- Não faz uma hora, um colega que está comigo no hotel, veio aqui com você e comprou um sanduíche de filé por 2 reais. Você está lembrado não?

- Claro Doutor! Não é um narigudo meio engraçado? Tô esquecido não! Esse seu amigo chegou aqui bem vexadinho perguntando quanto era o sanduíche de file. Eu falei – é 3 real e 50 centavos. Daí ele me perguntou assim:

- E se eu mandar tirar o queijo, o presunto, o ovo e a salada?

Ai eu disse - nesse caso 2 real paga a conta. Ele ficou todo alegre e me respondeu – manda um no capricho prá viagem.

Depois desse relato do chapeiro, o meu sangue ferveu da cabeça aos pés. Mas, o coitado do chapeiro não tinha culpa de coisa alguma. Completei o dinheiro e voltei para o hotel disposto a dar o troco. O sujeito me deixou com fome um tempão, me fez comer um pão com filé sem nada dentro e depois ainda me faz comprar para ele um sanduíche de filé com bacon completo. E muita cara-de-pau!

Quando entro no apartamento, puto de raiva, a figura já retruca de lá?

- Pô, cara! Demorou né!...

Completei no ato:

- Seguinte meu irmão! Tu só vais comer a porra desse sanduíche, se tu me explicares por que tu mandastes o chapeiro tirar tudo do meu sanduíche e deixar só o filé.

- Pô cara! Eu só me preocupei com a tua gastrite crônica, pressão e colesterol alto. Tu sabes né: manteiga faz mal, ovo faz mal, queijo faz mal, presunto faz mal e a salada tu podias pegar uma ameba. Sem rancor meu irmão! Fica frio! Vamos comer esse sanduíche e dormir.

É obvio que eu não acreditei e vou morrer sem acreditar nunca nessa desculpa cínica. Isso é armação e coisa de amigo-da-onça. Mas, é meu amigo – fazer o quê? Perdoei a sacanagem que ele me fez e ainda deixei que ele comesse o sanduíche completo de filé com bacon que eu havia comprado. Mas, prometi a ele que o mundo ia ficar conhecendo como age um legítimo amigo-da-onça. Assim, para você que acaba de ler essa história, eu faço apenas um humilde pedido. Ajude-me a cumprir a promessa – passe adiante!...

4 de setembro de 2006

A minha solidariedade!...

Os acontecimentos que envolveram o atentimento médico de Aylla Almeida na UNIMED e acabou num desfecho infeliz, trágico e profundamente doloroso para toda a família, deve merecer a atenção das autoridades e em particular a reflexão de toda a sociedade amazonense. Lamentavelmente a jovem Aylla não foi a primeira nem será a última vítima do mau atendimento ou do erro médico. Se pensarmos bem, isso na verdade acontece todos os dias nas clínicas, nos hospitais e consultórios médicos daqui e de qualquer lugar desse país.
Eu pessoalmente me sinto triste e abatido diante da dor da família Almeida. Eu conheço Aly, pai de Aylla, desde a minha infância. Fomos colegas na adolescência e sei da sua formação e da sua integridade moral. Aly jamais faria qualquer tipo de crítica e/ou denúncia irresponsável levado apenas pela dor que dilacera o seu coração nesse momento. Pelo contrário! - fico imaginando de onde vem conseguindo se alimentar de tanta força para superar essa tragédia e lutar para que todos os fatos sejam devidamente esclarecidos.
Aproveito a oportunidade para louvar a atitude da Camara Municipal de Manaus, que resolveu montar uma CPI para investigar eventuais erros médicos que provocaram a morte de Aylla. Lembro apenas que não basta aprovar a CPI, é precisar que haja disposição e coragem dos vereadores para irem fundo nessas investigações, não deixando que se transforme em mais uma pizza. Para quem anda com o crédito no vermelho junto à sociedade, essa é sem dúvida uma oportunidade para os vereadores mostrarem trabalho, competência, transparência e independência. Vamos dar mais esse crédito! Quem sabe!...
Sabemos também que a UNIMED e o Conselho Regional de Medicina também estão adotando seus procedimentos de investigação e avaliação desse caso. O que o povo espera e vai cobrar - é que haja o máximo de transparência na divulgação dos procedimentos de investigação e dos resultados finais. Não nos decepcionem!...