A lamentável tragédia vivida pelos moradores da Comunidade Arthur
Bernardes deve merecer atenção especial das autoridades e em particular da
sociedade. Já correm rumores e suspeitas de que o incêndio possa ter sido
provocado. Foi destacado pela mídia o fato de que, curiosamente, outros
incêndios ocorridos aconteceram em áreas a serem beneficiadas também pelo projeto
Prosamim. No atual contexto, tudo é possível. A investigação criteriosa desse
evento não pode ser descartada.
A outra questão a levantar, antiga, perigosa, e que ninguém dá uma
solução, é a questão dos gatos de energia espalhados pela cidade de Manaus. Na
área atingida pela tragédia, por exemplo, a situação já era crítica há muito
tempo. Periodicamente, as vítimas sofriam com as águas das enchentes que
atingem aquela comunidade e, cotidianamente, conviviam com os riscos dos gatos
de energia, numa área onde as casas destruídas e as que sobraram são todas praticamente 100% em madeira.
Quem passava pelo local podia ver claramente o perigo eminente daquelas
ligações clandestinas e crescentes nos postes de eletrificação. Todo dia tinha
alguém arriscando a vida e consumando um novo ponto de desvio de energia
(gato). Aliás, neste exato momento, pós- tragédia, é bem possível que alguns moradores
da área que não tiveram suas casas atingidas pelo fogo, estejam novamente
arriscando suas vidas para reativar os seus gatos e ter a luz de volta em suas
casas. O certo é que nenhuma autoridade do estado ou do município vai poder
alegar desconhecimento daquela situação que terminou em tragédia e com perdas
apenas matérias, felizmente. A solução lamentavelmente não veio a tempo de
evitar a tragédia consumada. São tantos os problemas da cidade e não existem recursos
suficientes para solucionar todos de uma só vez.
Entretanto, cabe aqui alguns questionamentos quanto ao trabalho de
prevenção das autoridades e dos órgãos competentes. O que poderia ter sido feito para impedir essa
tragédia? Houve algum alerta para o acúmulo de gatos de energia naquele local? O
que fez a Manaus Energia, ou o que faz a Manaus Energia ao identificar situações
de potencial risco como esta da Comunidade Arthur Bernardes? O que impede as operações de
retirada dos gatos de energia nessas áreas? Se existe
uma decisão política de tolerar esse processo de ligações clandestinas, mesmo
sabendo dos riscos que elas representam, não seria irresponsável demais não ter
também uma política de monitoramento e prevenção para pelos menos minimizar os
riscos de tragédias? Como é que as
autoridades e as instituições competentes lidam com essa questão das ligações
clandestinas de energia, considerando o risco potencial que elas representam? Quantas outras comunidades estão nesta mesma
situação em Manaus? A tragédia da Comunidade Arthur Bernardes vai mudar o quê?
Quanto aos políticos que agem de acordo com suas conveniências e só fazem
aquilo que convém ao próprio umbigo, é óbvio que não interessa apoiar qualquer tipo de resistência
e/ou combate a gato de energia e a gato de água. É o tipo de ação que, na opinião
deles (políticos), tira votos, e o
que eles querem mesmo é somar votos.
Finalizando, é bom lembrar e deixar claro que gato de energia e gato de
água são problemas sérios e podem gerar tragédias, mas não é uma prática
exclusiva de gente pobre e de comunidades carentes. Pelo contrário! Tem muito
gato de energia e de água em áreas nobres desta cidade, praticado por quem você
menos espera, por gente supostamente bacana, velhos e novos ricos avarentos.