Quando
se fala de TV em preto e branco, voltamos no tempo para lembrar a primeira vez
que assistimos alguma coisa numa televisão em Manaus. Quem lembra desse momento
mágico de quando as imagens de TV chegaram em nossa cidade e nas nossas casas?
Na
avenida Getúlio Vargas, onde eu nasci e morei por mais de 20 anos, a primeira família a
ter uma TV P&B na sala de estar, morava do outro lado da rua, bem em frente
de nossa casa. Era a família de Arthur, nosso colega de rua. Filho único,
gostava de levar os colegas para brincar na sua casa e era uma coisa que todos adoravam.
No meio das brincadeiras vinha sempre aquela merenda caprichada e reforçada preparada pela
sua mãe.
Quando
chegou a televisão, Arthur nos chamava para assistir junto com ele e seus pais. Era sempre depois
do jantar da família, pois, somos daquele tempo em que as famílias sentavam-se à
mesa para almoçar e para jantar.
Para
assistirmos TV na sala de estar da casa de Arthur, havia uma exigência
irretratável. Nenhum dos seus colegas podiam sentar no sofá para não sujarem o assento
e o encosto. Era compreensível essa preocupação. Enquanto aguardávamos ser chamados
para entrar, ficávamos na calçada da frente brincando e fazendo algazarra. Quando
entrávamos, já estávamos todos no mínimo bem suados. Em pouco tempo a sala de
estar exalava aquele cheiro azedo e inconfundível de moleque suado, o que incomodava
a mãe de Arthur que nos ameaçava sempre: - amanhã quem não vier tomado banho não
entra.
Dos
programas que existiam, lembro bem de um de dublagens. Aliás, nesse tempo em
Manaus havia até festival de dublagem, com excelentes dubladores. Tinha um
dublador que era muito engraçado que, se não estou enganado, era chamado de Ratinho.
Ele era espetacular. Ednelza
Sahado, que depois virou atriz e já fez até novela na Globo, era uma das rainhas
da dublagem naquela época.
Tinha
também os desenhos animados inesquecíveis: Tom & Jerry, Batifino e Karatê, Hugo Agogo,
Corrida Maluca do cachorro Muttley, Dick e Penelope, Pepe Legal, Pantera Cor de
Rosa, Papa-léguas e Coiote, Popeye, Pica-Pau, Ricochete e Blau-Blau.
Lembro que por
algumas vezes ficamos proibidos de entrar na casa de Arthur para assistir os programas de
televisão. Entre os colegas, havia aqueles que gostavam de apelar nas brincadeiras,
principalmente para irritar a mãe de Arthuzinho (era assim que ela o chamava).
No melhor do programa, um dos colegas, propositalmente, soltava um “pum”, também
conhecido como “traque”. Pense num peido fedido dos infernos.
A
mãe de Arthur reagia no ato:
-
Não vou nem perguntar quem foi o mal educado que comeu carniça. Saiam todos! E já vou avisando,
amanhã desapareçam da minha porta pois não tem televisão.
E
você que acabou de ler esse episódio, como e quando foi a sua primeira vez diante da TV? Qual a sua
lembrança desse momento e desse tempo mágico que não volta mais? Conta aí,
vai...