24 de dezembro de 2015

NOITE DE NATAL & PAPAI NOEL & PRESENTES

Quem não já acreditou em Papai Noel um dia? Fala sério! Eu confesso que acreditei, e muito...
A noite de natal, na verdade, era a única noite do ano que eu fazia questão de ir cedo para cama. Não queria em hipótese alguma correr o risco de Papai Noel chegar e eu não estar dormindo e com os sapatos e as meias limpas ao lado da cama, tudo bem arrumadinho.
Quando chegava dezembro, esperar Papai Noel na noite de natal era algo que só quem viveu isso sabe explicar. Quanto mais se aproximava o dia 24, mais angustiados ficávamos. Amanhecia o dia e a primeira coisa que se fazia era olhar ao lado da cama. Quem sabe Papai Noel não antecipava a visita. A frustração de ainda não encontrar os presentes ao lado da cama era substituída pela vontade de ver o dia passar rápido rumo ao novo amanhecer.   
Eu e minha irmã mais velha, Diana, dormíamos no mesmo quarto, no segundo piso da casa. Quando terminava a ceia com a família inteira reunida, pasmem, ninguém precisava nos mandar para a cama.
Lembro que todos os anos a minha cartinha para Papai Noel tinha um pedido que não podia faltar – uma bola de futebol.  Mas, de todos os presentes pedidos a Papai Noel, um foi inesquecível, pois tinha a ver com a minha coleção de Gibi. Eram revistas de histórias em quadrinhos: Mandrake, Batman e Robin, Fantasma, Superman, Recruta Zero, Zé Carioca, Brucutu. De todas as coleções, a minha preferida era a de Faroeste:  Durango Kid, Buffalo Bill, ZORRO e Billy the Kid.
O presente inesquecível de que falei, foi uma cartucheira com revólver de brinquedo, onde na carta enviada a Papai Noel eu fazia um apelo – não esqueça de trazer muitas caixinhas de espoletas. Acordei bem cedinho no dia 25, antes das seis horas da manhã. Ao lado dos meus sapatos, lá estava o presente especial encomendado a Papai Noel. Tirei da embalagem, alimentei o revólver com um rolinho de espoletas, coloquei na cintura e fui acordar meu irmão de criação, Luiz Humberto, que também já estava acordado com seus presentes. 

Resolvemos na hora começar uma brincadeira de mocinho e bandido. Até aí tudo bem! Acontece que eram seis da manhã e os tiros de espoleta dentro de casa começaram a soar como pesadelo nos ouvidos da família inteira ainda curtindo o sono e a ressaca da ceia de natal. Não demorou muito para vovó Graziela aparecer e impor ordem e acabar com o barulho e a brincadeira de faroeste. Fomos expulsos para o quintal. Se quiséssemos continuar a brincadeira tinha que ser sem perturbar o sono de quem ainda dormia. 

A nossa sorte era que o quintal de casa era grande, dividido em 3. Num deles ficava o galinheiro de vovó. Daí veio a ideia de menino. Soltamos as galinhas e as transformamos em índios sob a perseguição e a mira de nossos revolveres de espoleta. A cada tiro as galinhas se assustavam, pulavam, soltavam penas (o que nos lembrava as penas usadas pelos índios dos filmes que assistíamos aos sábados no Cine Guarany) e saiam correndo desesperadas pelo quintal. Tudo isso, obviamente, sem vovó Graziela imaginar o desespero de sua criação.
O tempo passava rápido e logo ouvimos uma voz:

- EMMANUEL!  LUIZ!  Subam! Está na hora de tomarem banho para o almoço.

Era a Dedé, mãe de Luiz Humberto, meu irmão de criação. O almoço em nossa casa era sagrado e todos tinham que estar à mesa na hora certa, tomado banho e arrumados. Deixamos as galinhas em paz e fomos para o outro quintal tomar banho de balde numa das cacimbas que existiam A água era gelada e cristalina. Enxergávamos o fundo do poço com nitidez e o banho de balde na beira de cacimba, cá entre nós, só quem tomou sabe o quanto é bom e relaxante. 

Tempos bons! Tempos de acreditar em Papai Noel! Tempos de muita alegria. Dedico essa crônico ao meu irmão de criação, Luiz Humberto, com quem vivi uma infância sadia e feliz.