7 de agosto de 2020

ZFM - cinismo, oportunismo e o escambau...

O filme e os discursos são sempre os mesmos. A ZFM é ameaçada e logo surgem aqueles que tem solução para tudo. Nessas horas todos são especialistas e salvadores da pátria. Quantas vezes você já ouviu:

- É preciso explorar as potencialidades da biodiversidade da Amazônia.

- A ZFM precisa de uma alternativa econômica que não seja apenas o Polo Industrial de Manaus.

Nessas horas os cínicos e oportunistas esquecem que, depois desses 50 anos, a cobertura florestal acima de 90% no Estado do Amazonas só existe graças a esse modelo que aí está. Basta olharmos para os estados vizinhos para se ter uma ideia da devastação  que já teríamos sido vítimas no Amazonas sem a ZFM.

A pergunta é:

- O que o estado brasileiro, o governo do Estado do Amazonas e a classe política local e regional, cada qual no seu cada qual, tem feito de fato para buscar, viabilizar e implementar alternativas econômicas ao modelo ZFM existente? Há mais de 50 anos a ZFM e a Suframa lutam para sobreviver. São ataques permanentes, parte deles, ou a maioria deles, vindo de dentro do próprio governo federal.  Sem falar no fogo amigo, vindo dos próprios aliados (?) e beneficiários do projeto ZFM que, desinformados, fortalecem o discurso dos inimigos da ZFM, dizendo que ela é boa apenas para Manaus. 

Estudos mostram que durante os últimos 15 a 20 anos, o Conselho de Administração da Suframa – CAS, foi colocado de escanteio pelo seu próprio ministério e pelos governos dos estados da região. Tivemos ministro que entrou e saiu do Ministério e nunca colocou o pé na sede da Suframa para presidir uma única reunião do CAS. Governadores e Prefeitos de capitais da região, que enxergavam a Suframa apenas como uma fonte de recursos a fundo perdido, também abandonaram o CAS quando viram que a fonte havia secado. O CAS, em resumo, nunca exerceu o seu verdadeiro papel. É o Fórum mais adequado para se discutir as questões regionais, inclusive as alternativas econômicas mais viáveis e sustentáveis, respeitada as peculiaridades de cada estado parceiro do projeto ZFM.

Agora, na luta da reforma tributária no Congresso Nacional, com quem será que a ZFM de fato poderá contar? Aponte uma notícia onde você tenha ouvido falar da bancada da Amazônia trabalhando em defesa dos interesses da região. Falta articulação, falta uma liderança política capaz de unir a região. No Congresso as coisas são decididas na conversa, no discurso de convencimento, no toma lá dá cá    , e, principalmente, no voto. Até onde a bancada do Amazonas vai conseguir resguardar os interesses do projeto ZFM sem levar pernada aqui e acolá. Dá para confiar que não seremos traídos?

Tem mais! Vejam que são mais de 50 anos de existência e ainda não temos uma estrutura de porto decente para o escoamento da produção local. Sem entrar no mérito, quando  surgiu um projeto privado para a construção de um porto moderno, detonaram por conta de questões ambientais. Continuamos sem um porto de carga moderno para a indústria da ZFM e um porto de passageiros decente para recepcionar os turistas. A própria estrutura urbana do Distrito Industrial acabou entregue a própria sorte. Finalmente decidiram quem tem o dever de tutor do D.I. e só agora resolveram viabilizar recursos para a sua recuperação, com a promessa do prefeito da cidade de transformá-lo num cartão de visita. Como se trata de promessa política, é melhor esperar para crer.   

São mais de 50 anos e os Centros de Pesquisas, como o INPA, em Manaus, que podem contribuir para a construção de alternativas econômicas para a região, vivem sucateados e de pires na mão. A Embrapa do Amazonas, que tem uma estrutura dentro do Distrito Agropecuário da Suframa e que poderia contribuir para o desenvolvimento dessa área de produção agropecuária e agroindustrial, também está sucateada. Nossos políticos até hoje, 50 anos já passados, nunca se mobilizaram para cobrar incentivos especiais para essa área, como aqueles que alavancaram o Distrito Industrial.

O CBA, idealizado para fazer a ponte entre a pesquisa e o negócio, criado para contribuir com o desenvolvimento de produtos e processos, até hoje aguarda a boa vontade do governo federal em lhe dar uma personalidade jurídica para andar com as próprias pernas. São mais de 15 anos de espera. É uma vergonha - quanto tempo perdido, irrecuperável. O Centro só não está fechado e empoeirado, por conta da teimosia de ex-superintendentes da Suframa, que assumiram todos os riscos para não deixá-lo parar e fechar. Uma nova proposta, como outras que foram até a última estância de governo, foi elaborada e aguarda decisão superior. Tomara que agora desencalhe. 

Quando o assunto é CBA, costumo dizer que a ideia de colocar 2 tucanos vazados na fachada do prédio do Centro é que nos trouxe a maldição. Fernando Henrique, em fim de governo, na verdade inaugurou apenas a obra física do Centro, sem nada dentro dos laboratórios, nem mesmo uma pipeta descartável. Se soubessem que depois de Fernando Henrique viria um governo petista, dá para acreditar que teria sido diferente se em lugar de 2 tucanos tivessem colocado na fachada 2 estrelas, 2 foices ou 2 martelos?