29 de dezembro de 2020

SAIDINHAS ASSASSINAS

Se a sociedade ficar esperando pelos políticos de meia-tigela do nosso Congresso Nacional e manter-se lerda e apática diante de algumas situações graves e crônicas como essa das saidinhas de presos no natal e ano novo, dezenas de famílias de bem continuarão sendo marcadas e enlutadas por ação de criminosos beneficiários dessa porra da saidinha. 

Está na hora de dar um basta nessa coisa ou pelo menos moralizar esse processo. 

Saidinha para ESTUPRADOR e TRAFICANTE é sacanagem.  É um tapa na cara da sociedade e das famílias de bem deste país. 

Nesta natal uma juíza foi assassinada covardemente pelo marido. Alarme total! Morreu uma juíza assassinada pelo marido - não pode! Ora bolas, mulheres comuns estão morrendo todos os dias, assassinadas por seus companheiros ou ex-companheiros.  Como morreu uma juíza, logo aparece notícias de mudanças na lei. Agora, a noticia é que o Conselho Nacional de Justiça estaria empenhado em rever e endurecer a lei contra os agressores. A questão é - quantas mulheres ainda irão morrer antes que a lei seja ajustada e os assassinos passem a receber uma pena mais dura e merecida? 

Será que também vamos ter que esperar um juiz, uma juíza ou seus familiares serem vitimas de estupradores e bandidos agraciados com saidinhas de fim de ano, para que haja algum movimento para acabar com esse atentado contra o cidadão de bem? Não estamos pedindo que as saídas sejam eliminadas. O que queremos é que esse processo de escolha de quem sai não seja imoral, indecente, dando saidinhas para bandidos de alta periculosidade, estupradores e traficantes.

Nosso Congresso estaria no dever de reagir. Cadê nossos representantes do Amazonas? Alô Eduardo Braga, Plinio Valério, Omar Aziz, Bosco Saraiva, Marcelo Ramos, José Ricardo, Silas Câmara – mexam-se! Digam alguma coisa da tribuna, nem que seja só para lamentar as mortes das vitimas desses assassinos soltos todo final de ano.

20 de dezembro de 2020

BARRACO na casa do Dedé...



As redes sociais estiveram ouriçadas esses dias com o barraco que barraqueiros e barraqueiras aprontaram na Casa do Dedé, ou melhor, na Cachaçaria do Dedé no Shopping da Ponta Negra. Uma turma de barraqueiros barbados e de barraqueiras assanhadas, tudo grandinho e supostamente todos com a cabeça cheia de mel do capeta, resolveram medir forças e animar o ambiente da cachaçaria. 
 
Não importa o que motivou aquela merda toda. Qualquer que tenha sido o motivo, uma coisa ficou como alerta para o Dedé e todos os proprietários de restaurantes chiques neste fim de ano. Nunca coloquem próximas, mesas de confraternização de barraqueiros barbados, com mesas de confraternização de barraqueiras assanhadas. Está ai o resultado - não só dá merda, como prejuízo também. Outro coisa! Segurança privada não resolve. Apanham não só os seguranças com os coitados dos garçons. Assim, solução para barraqueiros e barraqueiras é simples e rápida – LINHA DIRETA da ROCAM.

Enquanto os barraqueiros trocavam carícias as avessas, com socos, tapas, chutes e caneladas, uma galera em volta, como se estivesse numa arena de MMA, filmava tudo e relatava animadamente os acontecimentos nas redes sociais, alguns até cobrando mais ação e sangue entre os barraqueiros em guerra.

Numa das cenas mostradas nas redes, uma mulher aparece arrastando um dos barraqueiros pelo colarinho. Fiquei na dúvida se ela estava tentando impedir dele continuar apanhando ou de continuar batendo em alguém.

Em outra cena, cliente sentado numa mesa à parte, degusta o seu prato despreocupadamente, como que protegido por uma couraça de aço, sem fazer a menor ideia dos cacos e garrafas que estavam voando em sua volta. Espero que tenha saído inteiro de lá.

Fico agora imaginando os comentários entre as barraqueiras e os barraqueiros no dia seguinte, sem nenhum remorso do que aprontaram:

Entre as barraqueiras:

- Tu viu só bicha a bicuda que eu dei no saco daquele FDP que arrancou o meu aplique?

E entre os barraqueiros:

- Tu viu só cara a peruca que eu arranquei da cabeça daquela baranga que deu uma bicuda no meu saco?

Também fico imaginando se esse merda toda tivesse acontecido no Barraco do Zé Galinha lá da periferia. Uma coisa é certa. Rapidinho a ROCAM já chegava no pedaço baixando o porrete no couro dos barraqueiros e barraqueiras. Socava todos numa única viatura e colocava todo mundo para dormir amontoado no xilindró da Delegacia mais próxima, um cheirando o rabo e o bafo do outro.

No dia seguinte, as equipes de Plantão de Policia passam na delegacia, recolhem o nome de cada um dos barraqueiros e, em seguida, os apresentadores dos programas de rádio e tv matinais, abrem espaço para que tudo venha a público, com a fotografia, ficha corrida completa, raio X e o escambou de um a um.

Essa é a diferença entre barraco criado por gente simples na periferia e barraco criado por gente bacana no Shopping da Ponta Negra.

AMIGOS para sempre...

Quem não carrega na mente e no coração muitas lembranças e saudades do seu tempo de criança e, em particular, da sua juventude? Da Escola, por exemplo, trazemos lembranças e amizades que são eternas. É disso que eu quero falar agora, ou seja, de amizades sinceras e eternas. Quero prestar uma homenagem e expressar a minha gratidão a um parceiro da minha juventude, um colega de sala de aula do Colégio Dom Bosco, que se transformou num verdadeiro amigo, um irmão que eu guardo com imenso carinho lá no fundo do coração.

Quando completei 60 anos e a família resolveu comemorar essa data, bateu uma certa angustia no coração. Não iria conseguir reunir todos aqueles que eu gostaria de rever naquela data de 06.01.2015. Algumas ausências seriam compreensivas, mas, a ausência de uma delas seria inimaginável. Falo do meu amigo e irmão Wilson Pereira Barbosa, carinhosamente chamado de Tabica, apelido dado por seu pai, Bibi, que nasceu de uma brincadeira com a sua mãe, Dona Chagas. Consegui localizá-lo e convidá-lo para meu aniversário. Ele, junto com a sua esposa Nonata, me presentearam marcando presença na minha festa de entrada para o time dos sexagenários.

Nossa amizade começou em sala de aula. Frequentamos a mesma turma em todos os anos que passamos no Colégio Dom Bosco. Tínhamos duas paixões em comum – a bola e o mesmo time de futebol – FAST CLUBE. Fazíamos qualquer coisa para jogar bola, seja onde fosse. Tabica era um craque muito requisitado. Jogou até em time profissional da cidade. Pelo Dom Bosco, juntos fomos campeão estudantil de futebol de salão em 1970. Aliás, jogando futebol de salão, acredito que jogamos em todas as quadras que haviam na cidade naquela época. Deixamos muita pele e sangue nos pisos caraquentos da maioria das quadras de futebol de salão da cidade. Jogamos também pelo time do nosso saudoso Seo Araquém, do Bairro da Aparecida, que nos levava para os jogos e torneios sentados na carroceria do seu caminhão. Seo Araquém era pai de um dos nossos colegas de sala de aula – Irani Solano.

Nos estudos, Wilson era um aluno muito dedicado. De família humilde, ele sabia da importância de aproveitar a oportunidade de estudar numa escola como o Colégio Dom Bosco. De minha parte, diferente de Wilson e outros colegas, nunca fui um bom aluno. Todos os anos lá estava eu de segunda época, quase sempre em português, do odiado Prof. Alencar que, muitos anos depois, nos reencontramos como colegas servidores da Suframa. Naquele tempo, as aulas normais do ano letivo terminavam até o final de novembro e as provas de segunda época só aconteciam em fevereiro do ano seguinte. Nesse intervalo, eu e Wilson arrumávamos sempre um jeito de curtir as férias, sem deixar de jogar as nossas peladas, obviamente. Lembro que numa dessas férias, financiada pelo meu avô Manoel Ribeiro, fomos de barco até Parintins, onde tínhamos um colega de classe, Adalmiro, que sempre nos convidava para ir até lá. Para variar, jogamos por lá umas 3 partidas de futebol de salão antes de voltar.

Quando nossa turma chegou no terceiro ano científico e passamos a desfilar orgulhosamente com aquelas 3 estrelinhas na manga da camisa do colégio, tomei consciência de que era chegada a hora de levar a sério os estudos e me preparar para o vestibular.

Tínhamos um pequeno grupo de estudo. Um quarteto - Alfredo, Emmanuel, Florêncio, James e Wilson. Passamos a estudar com afinco depois das aulas do Dom Bosco. No terceiro ano o Colégio Dom Bosco tinha uma parceria com o Cursinho pré-vestibular Boechat.

Reuníamos para estudar numa sala que ficava no piso inferior da casa do meu tio Manoel, logo ao lado da casa onde eu morava com meus pais e meus avós, na Av. Getúlio Vargas. Quando dava, fazíamos cota para contratar alguns professores para nos dar aulas particulares de alguns matérias como química, física e matemática. Nesses dias o grupo crescia um pouco.

Um dos colegas do quarteto, Alfredo, tinha na época um fusquinha. Era o único motorizado do grupo. Depois que acabávamos de estudar, ele fazia a rota para deixar os colegas em casa. Quando não terminávamos muito tarde, antes de iniciar a rota, íamos lanchar juntos na lanchonete que existia no aeroporto de Ponta Pelada, onde comíamos o melhor sanduíche misto da cidade. Agora, se for falar do que acontecia durante essa rota, precisaria de alguns capítulos para contar tudo.

Incentivando um ao outro, mergulhamos fundo na preparação para o vestibular. O ano era 1973 e o vestibular aconteceu em janeiro de 74.

Naquele tempo os nomes dos aprovados no vestibular eram anunciados pelas rádios da cidade, um a um. A expectativa era muito grande. No dia do anúncio eu havia saído de casa e, quando voltei, percebi que tinha alguma coisa de errado. E havia! O resultado tinha saído na rádio e o meu nome não fora anunciado entre os aprovados na UFAM. Logo bateu aquela tristeza, pois, eu havia me entregue aos estudos e não tinha logrado êxito. Meus pais, Luiz e Rosalina Aguiar, ainda não estavam em casa. Ambos trabalhavam. E agora - o que dizer a eles.

Minha mãe chegou do trabalho e tratei logo de dar a notícia ruim. Ela era a minha fiel escudeira. Ficou triste, mas, como sempre, me deu aquela força. Agora, era esperar como meu pai ia receber e reagir a essa notícia. Minha mãe tomou a iniciativa de contar a ele assim que chegou. Passado uma hora, tempo para tomar seu banho e trocar de roupa, ele me chamou para conversar em particular. Papai tinha uma fala mansa. Nunca levantava a voz. Seus olhos graúdos falavam tudo. Uma bronca dele soava como uma surra. Já fui chegando perto com lágrimas nos olhos, envergonhado com o resultado. Papai nessa época já enfrentava as mazelas da doença que lhe levou cedo, com apenas 51 anos de idade.

Não fique triste – disse ele. Eu e sua mãe sabemos que você se dedicou para fazer o vestibular. Você fez a sua parte. Ano que vem tem outro vestibular. Se você manter a mesma dedicação e empenho, com certeza vai conseguir.

Daí em seguida ele me fez uma pergunta: - e seus colegas, quem passou? O Wilson passou? Papai gostava muito dos meus colegas da Escola, mas tinha um carinho maior pelo Wilson, que dizia ser um garoto muito centrado, educado e responsável.

Respondi que ele tinha sido aprovado e que gostaria de ir até a casa dele para parabeniza-lo. Faça isso – disse papai. Pegou a sua carteira e me deu o dinheiro para o taxi.
 
Ao atravessar o portão de entrada da casa de Wilson, já percebi que a alegria era contagiante. Ao notarem a minha presença, o clima mudou um pouco. Eles sabiam que eu não havia sido aprovado. Recebi palavras de conforto e fé de que a aprovação viria no próximo vestibular, como de fato aconteceu. Mas, ali naquele momento, a minha angustia por não ter sido aprovado já estava superada. Eu não me sentia culpado ou derrotado. Eu estava ali não para me lamentar, mas para comemorar e demonstrar a minha alegria pelo êxito do meu colega, amigo e irmão. Aprendi que não basta torcer pelo sucesso de um amigo, temos que vibrar com as suas vitórias.

No ano seguinte, logrei êxito no vestibular tanto na UFAM, como na UTAM.

A amizade com meu irmão Tabica continua. Passamos um longo tempo sem nos ver ou nos falar. Agora, aproveitando dos avanços tecnológicos, estamos sempre nos comunicando via whatsapp. Trocamos ideias, falamos do trivial, de família, de amor e de fé. Falamos um pouco de tudo e principalmente da nossa paixão maior – FAST CLUBE, que está arrasando na série D do campeonato brasileiro. Ao meu amigo e irmão Wilson Tabica, a minha eterna amizade e gratidão.

24 de outubro de 2020

CAMPANHA do DOUTOR & CORONEL & CAPITÃO e outros

O que vamos comentar é comum nas campanhas eleitorais em todos os níveis. Mas, na campanha deste ano de 2020, depois que um militar da reserva alçou ao cargo maior da república e optou por privilegiar os ex-colegas de farda para comandar a máquina pública, observa-se que o civil candidato que é médico, em particular, potencializou a promoção da sua candidatura colocando o Doutor antes do nome e enaltecendo os seus feitos na profissão, enquanto o militar da reserva, que também está disputando o pleito, faz o mesmo colocando a sua patente antes do nome e enaltecendo os seus feitos no tempo de caserna. 

A questão é: será que isso de fato ajuda em alguma coisa nas candidaturas? Será que isso conquista votos nas urnas? Será que esses candidatos sabem de verdade qual são as atribuições do Prefeito e do Vereador? 
 
Ora, na Prefeitura, se o vencedor for um médico, ele não vai lá comandar um consultório, não vai dar consulta, nem usar estetoscópio para auscultar ninguém dentro do seu gabinete. Da mesma forma, se o vencedor for um militar, ele não vai para lá comandar uma caserna, nenhuma tropa de elite ou de estafetas, nem trabalhar de boina ou coturno. Idem na Câmara Municipal. 
 
O curioso nisso tudo, pasmem, é que tem aqueles bacanas que se sentem melindrados quando não chamados solenemente de doutor, coronel, capitão, etc. Conheci uma pessoa no exercício da atividade pública, acreditem, que se recusava a abrir envelopes que não traziam o Dr. antes do seu nome. Minha avó, sabendo dessa frescura toda, sem nenhuma cerimônia, mandaria todos para o raio que os partam.

19 de outubro de 2020

TV P&B – A primeira vez ninguém esquece...

 

Quando se fala de TV em preto e branco, voltamos no tempo para lembrar a primeira vez que assistimos alguma coisa numa televisão em Manaus. Quem lembra desse momento mágico de quando as imagens de TV chegaram em nossa cidade e nas nossas casas?

 Na avenida Getúlio Vargas, onde eu nasci e morei por mais de 20 anos, a primeira família a ter uma TV P&B na sala de estar, morava do outro lado da rua, bem em frente de nossa casa. Era a família de Arthur, nosso colega de rua. Filho único, gostava de levar os colegas para brincar  na sua casa e era uma coisa que todos adoravam. No meio das brincadeiras vinha sempre aquela merenda caprichada e reforçada preparada pela sua mãe.

Quando chegou a televisão, Arthur nos chamava para assistir junto com ele e seus pais. Era sempre depois do jantar da família, pois, somos daquele tempo em que as famílias sentavam-se à mesa para almoçar e para jantar.

Para assistirmos TV na sala de estar da casa de Arthur, havia uma exigência irretratável. Nenhum dos seus colegas podiam sentar no sofá para não sujarem o assento e o encosto. Era compreensível essa preocupação. Enquanto aguardávamos ser chamados para entrar, ficávamos na calçada da frente brincando e fazendo algazarra. Quando entrávamos, já estávamos todos no mínimo bem suados. Em pouco tempo a sala de estar exalava aquele cheiro azedo e inconfundível de moleque suado, o que incomodava a mãe de Arthur que nos ameaçava sempre: - amanhã quem não vier tomado banho não entra.  

Dos programas que existiam, lembro bem de um de dublagens. Aliás, nesse tempo em Manaus havia até festival de dublagem, com excelentes dubladores. Tinha um dublador que era muito engraçado que, se não estou enganado, era chamado de Ratinho. Ele era espetacular. Ednelza Sahado, que depois virou atriz e já fez até novela na Globo, era uma das rainhas da dublagem naquela época.

Tinha também os desenhos animados inesquecíveis: Tom & Jerry, Batifino e Karatê, Hugo Agogo, Corrida Maluca do cachorro Muttley, Dick e Penelope, Pepe Legal, Pantera Cor de Rosa, Papa-léguas e Coiote, Popeye, Pica-Pau, Ricochete e Blau-Blau.

Lembro que por algumas vezes ficamos proibidos de entrar na casa de Arthur para assistir os programas de televisão. Entre os colegas, havia aqueles que gostavam de apelar nas brincadeiras, principalmente para irritar a mãe de Arthuzinho (era assim que ela o chamava). No melhor do programa, um dos colegas, propositalmente, soltava um “pum”, também conhecido como “traque”. Pense num peido fedido dos infernos.

 A mãe de Arthur reagia no ato:

- Não vou nem perguntar quem foi o mal educado que comeu carniça. Saiam todos! E já vou avisando, amanhã desapareçam da minha porta pois não tem televisão.

E você que acabou de ler esse episódio, como e quando foi a sua primeira vez diante da TV? Qual a sua lembrança desse momento e desse tempo mágico que não volta mais? Conta aí, vai...

14 de outubro de 2020

Serrinha Tlec Tlec

Dá para imaginar o que é uma serrinha tlec tlec? Pois é! Essa coisa estranha faz parte da minha história. Faz parte também de uma singela passagem de minha vida ainda criança, no convívio de meus pais e avós. Eu lhes conto! 

Eu tive um irmão que também se chamou Emmanuel. Ainda nos primeiros meses de vida, Deus entendeu que devia levar Emmanuel para o seu aconchego e assim foi cumprida a sua vontade. Daí então Luiz Aguiar e Rosalina Ribeiro trataram de trabalhar direito novamente, trazendo ao mundo, em 06 de janeiro de 1955, o segundo Emmanuel. 

Aqui estou eu, já cinquentão, mas ainda com gás e memória suficiente para relembrar e contar essa história. Eu fui o primeiro neto de Graziela e de Manuel Ribeiro. Meu avô era mais conhecido como Manuel Ribeiro do J. Soares, tradicional loja de ferragens que ficava localizada em frente ao Mercado Municipal de Manaus. Quando nasci, meus pais já haviam passado a morar juntos com meus avós, na avenida Getúlio Vargas, quase na esquina com a rua Ramos Ferreira. Sendo eu o primeiro filho e neto dentro de casa, obviamente todas as atenções eram voltadas para mim, o que era muito paidégua. O tempo ia passando e essa atenção se multiplicando, principalmente em termos de carinho. Não tenho do que reclamar e, confesso – me orgulho de ter sido criado com vó. A diferença é que eu tinha a mais linda e carinhosa vovó do mundo. Sabia ser dura nas horas certas e dava preferência por puxar as minhas orelhas, em lugar de me aplicar boas palmadas, que já era uma especialidade da minha mãe Rosalina. Papai, sempre sereno, optava por dar sermões, que no fundo doíam mais do que os puxões de orelhas de vovó e as palmadas de mamãe. 

Tudo ia muito bem, até que surgiu uma conversa dentro de casa de que um tio meu, chamado Manoel Henriques Ribeiro, ia chegar a Manaus. Comecei a perceber que as atenções e a alegria do ambiente de casa não eram mais uma exclusividade minha. Eu sabia pouca coisa desse tio, a não ser que foi estudar e morar num lugar muito longe, numa cidade chamada Bauru, no interior de São Paulo. Pouco me importava naquele momento de onde ele vinha, mas sim o espaço que eu ia ter que dividir com ele dentro de casa. O espaço que eu falo, era o espaço no coração dos meus avós Graziela e Manuel Ribeiro. Eu ainda não compreendia naquele momento, que em nossos corações, quando o assunto é amor, na verdade existe lugar para todo mundo. 

Pronto - chegou o dia! O sujeito desembarcou e veio mesmo para bagunçar o meu coreto. Para começar, de cara deixei de ser o homem mais lindo da casa. Todo mundo que olhava para ele dizia – ah, como você está lindo Manuelzinho! Vovó sorria e chorava ao mesmo tempo. Enquanto ela se derretia em lágrimas, eu, do lado dela, grudado que nem um carrapato, me derretia todo mas era de ciúmes. Pô, tudo bem! Eu até estava convencido de que o cara era boa pinta mesmo, mas estava invadindo de sola o meu espaço. A minha preocupação rapidinho passou a ser outro, ou seja, descobrir quando era que ele ia embora. 

Tio Manoel não fazia a menor ideia da minha ciumeira. Comecei a cercá-lo para saber até onde ia a sua ousadia de tomar o meu espaço. Lembro bem, já em casa, deitado na rede de meu avô e vendo eu ali cercando e atento a tudo, ele me chamou pela primeira vez para conversar. Começou a me fazer um monte de perguntas e a criar situações de brincadeiras. Até então eu não fazia ideia de que tio da gente gostava dessas coisas – perguntar um monte de besteiras e brincar feito um palhaço. Até hoje repito para chamar a atenção das crianças, o que ele fazia para mim. Coisas de palhaço! Vovó chamava isso de presepadas. Mas o pior de tudo é que eu estava adorando. 

Comecei a sentir ali naquele momento que a minha preocupação era boba, pois ocupávamos espaços bem diferentes, e que na verdade eu estava ganhando naquele instante mais alguém na minha vida para me cercar de carinho e de atenção. Quando paramos a brincadeira, ele levantou da rede e me deu um abraço. Desse abraço em diante, ganhei muito mais que um tio - eu ganhei um outro pai e amigo, a quem dedico essa singela passagem da história de minha vida. Entre as coisas que temos em comum, eu e tio Manoel temos uma grande e eterna paixão que é cantada assim: timãoooo ê ô, timãoooo ê ô , timãoooo ê ô, timãoooo ê ô... 

Passado alguns dias depois desse primeiro bate-papo real, mágico e cheio de brincadeiras que tinha acontecido entre eu e tio Manoel, senti que dava para maneirar um pouco com a minha ciumeira. Passei então a arrumar desculpas para estar por perto e ganhar a atenção dele. Valia de tudo! Pegava meus brinquedos, um por um, e levava para ele conhecer. Até que um dia, sem nenhum brinquedo mais para mostrar, resolvi apelar de outra forma. Cheguei junto e perguntei: 

- Tio, o senhor sabe onde está a minha serrinha? Sem saber do que se tratava, ele argumentou – que serrinha essa? Aquela que faz tlec, tlec – completei. A casa inteira nesse dia foi mobilizada para procurar a tal serrinha tlec tlec, mas fui eu mesmo que acabei achando. Afinal, nada havia se perdido. Dei aquela enrolada, peguei o brinquedo supostamente desaparecido e fui correndo para mostrar ao tio Manoel. Aproximei-me da rede onde ele estava deitado no quarto de vovó e gritei: – Achei a minha serrinha tlec tlec. Tio Manoel olhou meio que espantado, e só então veio a entender que a tal serrinha tlec tlec, que eu dizia ter sumido dentro de casa, nada mais era do que um revólver de brinquedo plástico, que quando acionado o gatilho, fazia o barulho tlec, tlec. 

O certo é que eu armei e acabei me dando mal. Depois desse episódio e de muita gozação, ganhei o meu primeiro apelido de que tenho lembrança – serrinha tlec tlec.

9 de outubro de 2020

CELSO PIACENTINI (in memoriam)


   Celso Piacentini - JETRO/JAPÃO - 2007 
O polo industrial de Manaus perdeu um excelente profissional. Além da competência reconhecida, Celso Piacentini era uma pessoa simples, muita simpática e alegre. O momento é de tristeza pela sua partida, porém, quem conheceu Celso, sabe que ele, de onde estiver, quer na verdade nos ver bem e alegres, como ele era no convívio com os amigos.

Assim, gostaria aqui de lembrar de um episódio alegre vivido com Celso, durante uma viagem que fizemos ao Japão, no ano de 2007, onde ele, representando a FIEAM, fez uma apresentação a empreendedores e consultores japoneses interessados no modelo ZFM, falando do ponto vista das indústrias, em particular da questão logística que ele tinha pleno domínio. Essa apresentação, contou também com a presença do nosso amigo Sr. Teruaki Yamagishi, falando da experiência das empresas japoneses que acreditaram na ZFM e aqui estão instaladas. Eu e Jânio Bittar, pela Suframa, fazíamos a exposição do modelo ZFM, dos incentivos disponíveis às indústrias e, por meio de planilhas, demonstrava-se as vantagens competitivas de produzir na ZFM e não em São Paulo, por exemplo. Depois desse evento, seguiam-se reuniões que aconteciam na sede da embaixada brasileira, onde se atendia aqueles empresários e consultores interessados em maiores detalhes. 

Celso Piacentini e Teruaki Yamagishi - JETRO/JAPÃO 2007 

Mas, vamos agora ao episódio que eu de fato gostaria de relembrar com saudade dessa viagem com a participação do nosso amigo Celso Piacentini.

Essa apresentação ocorrida no Japão, a convite da JETRO (Japan External Trade Organization) e o apoio da embaixada brasileira, aconteceu no mesmo instante em que participávamos de um grande evento internacional e anual (FOODEX) que acontece na cidade de CHIBA, situada a cerca de 40km de Tóquio. É uma feira de alimentos e bebidas conhecida mundialmente e onde tínhamos um estande próprio na ala do Brasil. Os grandes fabricantes de alimentos e bebidas espalhados pelo mundo se fazem presentes nessa feira, lançando e divulgando os seus produtos.

No final dessa feira, normalmente no último dia, uma boa parte dos expositores costumam distribuir gratuitamente os seus produtos/sobras, evitando assim todos os contratempos e os custos de levá-los de volta para seus países de origens.

Entre os estantes mais procurados e visitados na feira, estão os dos fabricantes de azeite, onde os mais importantes sempre marcam presença. Assim, no final do evento, os azeites se transformam num dos brindes mais cobiçados para se ganhar e levar para casa.  

No penúltimo dia da feira, conversávamos com Celso no nosso estande e tocamos nesse assunto do azeite, ou seja, sobre a possibilidade de, no dia seguinte, último dia do evento, termos a sorte de  ganhar alguma garrafa de azeite para trazermos para casa. Nesse ano, um fabricante italiano estava na feira lançando um azeite especial, puro, orgânico e em garrafa de 1 litro. Era a nossa cobiça.

Depois de nos ouvir, Celso nos perguntou porque íamos esperar o último dia para tentar ganhar uma garrafa de azeite. Era a primeira vez dele naquele evento e explicamos que os expositores de azeite não davam brinde para ninguém, exceto para os potenciais compradores e após muita conversa. Nos estandes podíamos provar o sabor dos azeites com pequenos pedaços de pão, cada um mais gostoso do que o outro, principalmente os italianos.

Celso então lançou-nos um desafio. Pediu que nós o levássemos nos estandes em que a gente gostaria de ganhar uma garrafa de brinde e ele ia conseguir as garrafas de azeite para trazermos. Em troca nos responsabilizaríamos em trazer para Manaus o que ele arrebatasse, inclusive a que ele viesse a escolher.

Como Celso era muito brincalhão, não levamos muito a sério o desafio, porém, não custava nada visitar os estandes junto com ele e ver no que ia dar. Pelo menos uma coisa era certa - íamos comer muito pão para provar dos azeites.

Chegando no primeiro estande, do cobiçado azeite puro e orgânico, o expositor ficou logo muito empolgado. Celso já se apresentou sorridente, falando italiano e se mostrando interessado nos produtos. Trocou cartão, fez perguntas sobre os produtos e preços, fez até cálculos de frete, tamanho de container e tipo de transporte. Eu e Jânio, enquanto Celso conversava com o expositor, fazíamos a prova dos azeites com os pedacinhos de pão. Depois de quase meia hora, Celso encerrou a conversa pedindo ao expositor um exemplar dos azeites em exposição para ele levar para casa. Foi de cara atendido e arrebatou a primeira garrafa.

Fomos em frente e, em todos os estandes visitados, Celso ao final da conversa convencia o expositor a lhe dar de brinde uma garrafa para ele levar para casa.  

Ficamos satisfeitos. Foram seis estandes visitados e seis garrafadas arrebatadas. Mas, no final de tudo, sobrou para nós a missão de trazer as garrafas de azeite. Jânio trouxe 3 com ele e eu mais 3. Entre elas, a cobiçada garrafa de azeite puro, italiano, que Celso decidiu que essa seria a dele.

Com certeza existem muitas outras histórias alegres que os amigos de Celso gostariam de contar. Significa que vamos sempre lembrar com muito carinho desse amigo que agora descansa em paz em outro plano espiritual.

  

28 de agosto de 2020

Mano Agostinho...

Hoje, meu mano Agostinho está no berço. Um pouco mais velho do que eu, fomos criados juntos na Getúlio Vargas, já próximo da Ramos Ferreira, numa casa que tinha na entrada o nome de vila, sem ser de fato uma vila – Vila Rosalina. Entretanto, fazia divisão com uma vila de verdade e que existe até hoje - a Vila Mimi.

A casa onde morávamos, toda feita em pedra e madeira, já não existe mais.

Dormíamos no mesmo quarto: eu, mano Agostinho e nosso mano Cláudio de saudosa memória.

De segunda a sexta-feira almoçávamos todos juntos com os nossos avós Manoel e Graziela Ribeiro. Na hora do almoço, uma mesa de madeira de lei envernizada era espichada para poder caber diariamente 9 pessoas, com o vovô Manoel na cabeceira e vovó Graziela à sua direita comandando tudo e dando todas as ordens.

Durante esses dias da semana, e isso por muitos anos, passamos por um verdadeiro castigo gastronômico. Tínhamos que encarar um prato fundo de sopa antes da refeição principal do almoço. Na mesa, com toda a família reunida, quem não tomasse a sopa não podia se levantar da mesa, não tinha direito a reclamar de nada,  nem era servido do prato principal pela vovó Graziela.

Havia uma regra irretratável na mesa do almoço. Ninguém tocava na comida para se servir. A sopa vinha da cozinha já na medida certa para todos. Depois da sopa, vovó servia um a um, começando pelo nosso avô Manoel. Era cumprida uma ordem cronológica. Eu era o penúltimo e minha irmã Diana era a última a ser servida do prato principal. A sopa da Diana, coitada, era sempre a mais salgada. Antes do prato de sopa chegar ela já estava chorando.

O castigo só não era maior por que todo dia era uma sopa de sabor diferente. Mas, tinha aquele dia que era ruim para a maioria. Era o dia de quinta-feira, quando a sopa era de nabo, a preferida de vovô Manoel. Nesse dia todos tomavam a sopa olhando um para a cara do outro, querendo chorar junto com a Diana. Para piorar, era o dia em que o prato principal tinha o que todos gostavam – bife suculento e aquela batata frita feita pela Dedé que comandava a cozinha da casa. Era tudo de propósito, com certeza.

São muitas as histórias para contar vividas com esses manos Agostinho e Cláudio.

Eu nunca tive um irmão de sangue, mas, Deus me deu a felicidade de ser criado com dois seres humanos maravilhosos. Agostinho, que hoje está no berço, e Cláudio, que já não está mais entre nós. Por ser o mais novo dos 3, além do amor de irmão que nos unia, eu tinha a certeza da proteção deles em qualquer circunstância. Nas peladas da turma da rua, ai daquele que tentasse me machucar – o sarrafo comia solto. Quando eu queria sair durante a noite, isso só era possível na companhia de um deles e tinha hora certa para voltar. Eles nunca me deixaram na mão.

A única reclamação que tenho deles era quando saiam para namorar ou para as festinhas  e eu ficava sozinho no quarto de dormir. As noites ficavam mais longas. Como a casa era antiga, as portas batiam sozinhas, o assoalho rangia e o medo ainda me fazia ouvir ruídos e vozes estranhas, o suficiente para não dormir e me cobrir até a cabeça com o lençol. Assim, eu não corria o risco de dar de cara com nenhum fantasma. Eu suava da sola do pé até a cabeça. Quando um deles chegava, eu ouvia o barulho do portão de entrada sendo aberto. Eu  tirava o lençol de cima de mim e fazia de conta que estava tudo bem. Era um tremendo alívio.  Só que muitas vezes esse alívio só vinha depois das 2 ou 3 da madrugada. Se fosse tempo de carnaval, aí eu só ia dormir quando o dia estava amanhecendo e a luz entrava por um janelão que tinha no nosso quarto e dava para os fundos do terreno da casa.

Ao meu mano Agostinho, quero aqui encerrar essa pequena lembrança expressando o meu eterno amor e carinho, desejar-lhe muita saúde, luz, paz, alegrias, realizações e vida longa. 

7 de agosto de 2020

ZFM - cinismo, oportunismo e o escambau...

O filme e os discursos são sempre os mesmos. A ZFM é ameaçada e logo surgem aqueles que tem solução para tudo. Nessas horas todos são especialistas e salvadores da pátria. Quantas vezes você já ouviu:

- É preciso explorar as potencialidades da biodiversidade da Amazônia.

- A ZFM precisa de uma alternativa econômica que não seja apenas o Polo Industrial de Manaus.

Nessas horas os cínicos e oportunistas esquecem que, depois desses 50 anos, a cobertura florestal acima de 90% no Estado do Amazonas só existe graças a esse modelo que aí está. Basta olharmos para os estados vizinhos para se ter uma ideia da devastação  que já teríamos sido vítimas no Amazonas sem a ZFM.

A pergunta é:

- O que o estado brasileiro, o governo do Estado do Amazonas e a classe política local e regional, cada qual no seu cada qual, tem feito de fato para buscar, viabilizar e implementar alternativas econômicas ao modelo ZFM existente? Há mais de 50 anos a ZFM e a Suframa lutam para sobreviver. São ataques permanentes, parte deles, ou a maioria deles, vindo de dentro do próprio governo federal.  Sem falar no fogo amigo, vindo dos próprios aliados (?) e beneficiários do projeto ZFM que, desinformados, fortalecem o discurso dos inimigos da ZFM, dizendo que ela é boa apenas para Manaus. 

Estudos mostram que durante os últimos 15 a 20 anos, o Conselho de Administração da Suframa – CAS, foi colocado de escanteio pelo seu próprio ministério e pelos governos dos estados da região. Tivemos ministro que entrou e saiu do Ministério e nunca colocou o pé na sede da Suframa para presidir uma única reunião do CAS. Governadores e Prefeitos de capitais da região, que enxergavam a Suframa apenas como uma fonte de recursos a fundo perdido, também abandonaram o CAS quando viram que a fonte havia secado. O CAS, em resumo, nunca exerceu o seu verdadeiro papel. É o Fórum mais adequado para se discutir as questões regionais, inclusive as alternativas econômicas mais viáveis e sustentáveis, respeitada as peculiaridades de cada estado parceiro do projeto ZFM.

Agora, na luta da reforma tributária no Congresso Nacional, com quem será que a ZFM de fato poderá contar? Aponte uma notícia onde você tenha ouvido falar da bancada da Amazônia trabalhando em defesa dos interesses da região. Falta articulação, falta uma liderança política capaz de unir a região. No Congresso as coisas são decididas na conversa, no discurso de convencimento, no toma lá dá cá    , e, principalmente, no voto. Até onde a bancada do Amazonas vai conseguir resguardar os interesses do projeto ZFM sem levar pernada aqui e acolá. Dá para confiar que não seremos traídos?

Tem mais! Vejam que são mais de 50 anos de existência e ainda não temos uma estrutura de porto decente para o escoamento da produção local. Sem entrar no mérito, quando  surgiu um projeto privado para a construção de um porto moderno, detonaram por conta de questões ambientais. Continuamos sem um porto de carga moderno para a indústria da ZFM e um porto de passageiros decente para recepcionar os turistas. A própria estrutura urbana do Distrito Industrial acabou entregue a própria sorte. Finalmente decidiram quem tem o dever de tutor do D.I. e só agora resolveram viabilizar recursos para a sua recuperação, com a promessa do prefeito da cidade de transformá-lo num cartão de visita. Como se trata de promessa política, é melhor esperar para crer.   

São mais de 50 anos e os Centros de Pesquisas, como o INPA, em Manaus, que podem contribuir para a construção de alternativas econômicas para a região, vivem sucateados e de pires na mão. A Embrapa do Amazonas, que tem uma estrutura dentro do Distrito Agropecuário da Suframa e que poderia contribuir para o desenvolvimento dessa área de produção agropecuária e agroindustrial, também está sucateada. Nossos políticos até hoje, 50 anos já passados, nunca se mobilizaram para cobrar incentivos especiais para essa área, como aqueles que alavancaram o Distrito Industrial.

O CBA, idealizado para fazer a ponte entre a pesquisa e o negócio, criado para contribuir com o desenvolvimento de produtos e processos, até hoje aguarda a boa vontade do governo federal em lhe dar uma personalidade jurídica para andar com as próprias pernas. São mais de 15 anos de espera. É uma vergonha - quanto tempo perdido, irrecuperável. O Centro só não está fechado e empoeirado, por conta da teimosia de ex-superintendentes da Suframa, que assumiram todos os riscos para não deixá-lo parar e fechar. Uma nova proposta, como outras que foram até a última estância de governo, foi elaborada e aguarda decisão superior. Tomara que agora desencalhe. 

Quando o assunto é CBA, costumo dizer que a ideia de colocar 2 tucanos vazados na fachada do prédio do Centro é que nos trouxe a maldição. Fernando Henrique, em fim de governo, na verdade inaugurou apenas a obra física do Centro, sem nada dentro dos laboratórios, nem mesmo uma pipeta descartável. Se soubessem que depois de Fernando Henrique viria um governo petista, dá para acreditar que teria sido diferente se em lugar de 2 tucanos tivessem colocado na fachada 2 estrelas, 2 foices ou 2 martelos?

27 de junho de 2020

MÃOS LIMPAS & LAVA-JATO

Foi anunciada a saída de 3 procuradores que estavam trabalhando na Operação Lava-Jato, com justificativas pouco transparentes.
Essa situação me faz lembrar uma avaliação feita por um ex-procurador da Operação Mãos Limpas, Italiana, Piercamillo Davigo. Segundo ele, os corruptos venceram a guerra contra a corrupção. No âmbito político, o ex-procurador disse que após a Operação Mãos Limpas, os políticos não pararam de roubar, só teriam parada de ter vergonha de roubar.
Qual será a opinião dos três procuradores brasileiros que abandonaram recentemente os trabalhos da Operação Lava Jato? Será que ainda existe quem acredite que a Operação Lava-Jato vai ter um fim diferente da operação italiana?

23 de junho de 2020

Vá ser FEIO assim lá em ATIBAIA

Fala sério!
Chamar essa figura de ANJO é uma ofensa a LÚCIFER que contam que era um anjo belíssimo. 
Conhecido por ser vingativo, o Anjo LÚCIFER pode não estar gostando nada dessa brincadeira e resolva dar o troco fazendo com que a qualquer momento o Anjo de ATIBAIA apareça por aí dando entrevistas com um par de chifres na testa. É bom não duvidar. Com LÚCIFER não se brinca né.
Mas, como estamos falando do Anjo de Atibaia, isso nos remete ao QUEIROZ, ressurgido das profundezas do inferno. Essa história de amizade do QUEIROZ com políticos, me faz lembrar o que meu avô dizia da amizade com e entre políticos, lembrando um pensamento de Victor Lasky - Na política não há amigos, apenas conspiradores que se unem.
O sujeito se aproxima do político, passa a receber um tratamento diferenciado, ganhar algumas regalias para si próprio e para os seus, e aí já se acha amigo do peito do político, insubstituível, inatingível, irmão de fé e camarada, e pau para toda obra. 
Se não bastasse isso, acreditando na falsa amizade e nas suas benesses, o sujeito passa a fazer o que não devia e a se comportar e atacar de forma agressiva e gratuita os adversários e os inimigos do suposto amigo e irmão político. Aquele conversa manjada do mexeu com ele, mexeu comigo.
Daí, quando acontece uma merda e a amizade que parecia eterna é colocada em jogo, na hora que a corda aperta o político posa de honesto, diz que vai provar tudo nos autos, morre jurando que é inocente e não pensa duas vezes em entregar o suposto amigo e fiel escudeiro para os leões famintos. É vero!

11 de junho de 2020

MANDATO POLÍTICO


Nenhum político deveria permanecer no mesmo cargo político por mais de 2 mandatos. Como seria bom ver isso se tornar realidade. Aquele que quiser cumprir mais de 2 mandatos, em qualquer dos cargos, primeiro acerte as contas com o homem lá de cima para assegurar a sua reencarnação.

Vejam que para presidente, governadores e prefeitos a regra já existe. Esperar agora que os políticos tomem a iniciativa de legislar para moralizar essa questão de tempo de mandato também para os cargos de vereador, deputado e senador, é algo que eu diria impensável de acontecer com essa galera que está hoje no Congresso Nacional.


Antes de eleitos, eles defendem qualquer coisa, qualquer causa. Nessa hora o que importa é conquistar a sua simpatia e o seu voto. Depois de eleitos, aí é que você vai conhecer quem é quem. 

Na reforma política que tanto se espera, não espere que os políticos criem qualquer coisa que lhes tire a oportunidade de viver eternamente de mandatos e de suas benesses e mordomias.

Essa é uma questão que o eleitor vai ter que resolver na boca da urna. Basta decidir não dar mais seu voto para nenhum político que já vestiu o pijama e agora quer voltar como salvador da pátria. É fria! Basta não dar mais seu voto para nenhum político que já tenha cumprido mais de 2 mandatos para o cargo que esteja ocupando ou postulando reconquistar. Dessa forma tiramos de circulação quem já deu o que tinha para dar e abrimos oportunidade para uma nova geração de políticos. Pior do que está, certamente não fica.

Essa coisa chamada EMENDA PARLAMENTAR

Observe o seguinte:
Durante 4 anos o político se utiliza de verba pública, por meio dessa coisa chamada de emenda parlamentar, para se promover e, de forma velada ou descaradamente, fazer campanha para sua reeleição. É fato!

O político não perde a oportunidade de encher a boca para dizer que destinou milhões em verba pública para isso ou aquilo. Vai para a mídia ocupar os espaços e aproveita o quanto pode para se promover com essa coisa. É uma forma cínica de fazer política e de se promover. A emenda parlamentar, agora impositiva, é o que tem de mais imoral nesse sentido.

Pense como um candidato novo, debutante, sem grana para fazer sua campanha, vai conseguir disputar voto com esses políticos que são agraciados com verba pública/emendar parlamentar e, durante 4 anos, usam isso para se promover e fazer suas campanhas para reeleição.

No interior do estado, nas comunidades e nos bairros mais distantes e carentes de tudo, em quem você acha que o caboclo desinformado vai votar: em mim, em você que estaria tentando entrar para a política, ou no candidato com mandato que usa da verba pública e só aparece em ano de campanha para dizer que vai continuar empenhado em mandar verba de emenda para ajudar a comunidade a melhorar de vida?

Usando dessa arma no interior do Estado, principalmente, temos político que já foi reeleito por mais de 7 vezes.

25 de maio de 2020

O Estagiário

 Nos anos 90 o Superintendente da Suframa recebia muitas pessoas em seu gabinete, principalmente empresários de outras regiões e de outros países. Vinham conhecer a ZFM, a Suframa, e buscar maiores informações sobre as vantagens de se instalar e produzir em Manaus.

As audiências eram diárias, concorridas e as vezes demoradas. Quando a audiência era com visitantes estrangeiros, havia a necessidade de intérpretes, o que demandava um tempo maior de atendimento.

Certa oportunidade, um empresário brasileiro aguardava na recepção a sua audiência marcada para as 10 horas da manhã. Imaginando que a sua conversa com o superintendente demandaria no máximo 1 hora, marcou o seu retorno num voo que saia de Manaus no início da tarde.

A audiência que antecedeu a do empresário começou um pouco mais tarde e durou um tempo além da conta. Quando entrou no gabinete para conversar com o superintendente, o empresário discretamente já manifestou a sua preocupação com o horário do seu voo de retorno. Havia a exigência de se apresentar para o embarque 2 horas antes.

Vendo a inquietação do empresário, o superintendente cordialmente lhe colocou uma viatura do órgão para transportá-lo até o aeroporto assim que a audiência terminasse.

E assim aconteceu. Encerrada a audiência, a secretária do gabinete ligou para o setor de transporte para que uma viatura se deslocasse até a entrada da Suframa para levar o empresário até o aeroporto. O Sr. Moreira, motorista do próprio superintendente, foi designado para fazer o transporte. Pegou a viatura e se dirigiu até a escadaria na entrada principal da Suframa.

Chegando na escadaria, já estava lá uma pessoa de pé esperando. Imediatamente essa pessoa abriu a porta de trás do carro e entrou, sem dar uma palavra, nem mesmo um boa tarde. Como fora informado que ia levar alguém ao aeroporto que estaria atrasado para o voo, Sr. Moreira não pensou duas vezes e saiu no rumo do Eduardo Gomes.

Na descida da avenida em frente a Suframa, Sr. Moreira olhou pelo retrovisor e achou algo estranho no cidadão sentado no banco de trás, sempre de cabeça baixa. Já estava escabreado, pois o sujeito entrara no carro sem sequer dar boa tarde ou dito para onde iria. Já passando pelo Bairro do Japiim, o Sr. Moreira desconfiou de vez e resolveu interpelar o seu passageiro. Nesse momento, aproveitando que o carro estava parado esperando o sinal abrir, o suposto empresário simplesmente abriu a porta do carro e saiu numa desabalada carreira.

Só aí então Sr. Moreira deu conta que o seu passageiro não era a pessoa que deveria levar ao aeroporto. Quem estava no carro era um estagiário que trabalhava no gabinete ajudando nas atividades de secretariado.

Felizmente Sr. Moreira descobriu a tempo que estava com o passageiro errado dentro do carro. Retornou rápido à Suframa e, chegando na escadaria, lá estava o verdadeiro empresário ansioso esperando pelo transporte. Conhecendo bem os atalhos, conseguiu chegar a tempo do empresário embarcar no seu voo sem maiores dificuldades.

Essa é só uma das peripécias que marcaram a passagem do estagiário pela Suframa. Depois eu conto mais.

21 de abril de 2020

O Analista dos Barés



Manaus, primeiros anos do novo milênio. Boas lembranças! 

Nesse tempo, um grupo de amigos do trabalho tinha por hábito, após o encerramento do expediente, se reunir para jogar conversa fora. Era um verdadeiro happy hour. Ficávamos conversando e vendo a hora passar, esperando o fluxo de transito melhorar na saída do Distrito Industrial e assim voltarmos para casa com maior tranquilidade. 

Era um grupo bem animado, com alguns gozadores natos, chatos e até irritantes. Os temas de discussão preferidos dentro do grupo eram a política e o futebol. Vou contar umas das histórias inesquecíveis dessa confraria, preservando os nomes dos atores.  

Um desses amigos queridos do grupo, infelizmente já falecido, gostava de fazer suas análises da conjuntura política e, principalmente, fazer os prognósticos. Adorava ser provocado sobre esse tema e defendia como ninguém as suas percepções do jogo político. Era o nosso inconfundível Analista dos Barés.  

Daí então, sempre que havia uma disputa política acontecendo, em qualquer nível, não podíamos deixar de reunir a confraria e pedir a análise e o prognóstico do nosso analista. O fato curioso é que tudo aquilo que ele analisava e prognosticava, normalmente não acontecia.  

Vejamos um exemplo: imaginemos que os nossos saudosos e queridos Boca de Bilha, Lauro Goiaba e Macaxeira entrassem numa disputa política. Se o nosso Analista dos Barés, depois da sua análise, desse como prognóstico a vitória de Macaxeira, podíamos ter a certeza que o resultado ia dar Boca de Bilha ou Lauro Goiaba, nunca, jamais, em tempo algum, Macaxeira seria o vitorioso.

Na nossa Instituição de trabalho, também havia as disputas políticas pelos cargos. De praxe, os cargos mais relevantes eram leiloados e preenchidos por indicação de parlamentares, no tradicional troca-troca entre o executivo e o legislativo. Uma dessas disputas pelo cargo na Instituição, ficou na história da Confraria. Lembro que Lula havia assumido o seu primeiro mandato presidencial nos primeiros anos do novo milênio. Logo após a sua posse começaram as especulações sobre quem ia ser o novo superintendente da Instituição.

Sabemos que nesses momentos de disputas políticas, sejam quais forem, brotam boatos de todos os lados. Um desses boatos estava provocando um tremendo buchicho dentro da Instituição. Começou a circular que uma servidora da casa estava bem cotada e seria a nomeada para o cargo maior. Como dizia um dos amigos da confraria – o babado era forte! 

Se verdade esse boato, teríamos a quebra da hegemonia dos homens no cargo de Superintendente, coisa que não se imaginava acontecer naquele momento, considerando o poder de fogo e o apadrinhamento daqueles que estavam no páreo. Só tinha afilhado de cobra grande na disputa. Como imaginar uma servidora da casa conseguir vencer essa batalha. Mas, tínhamos um amigo sempre muito otimista no grupo que levantou uma hipótese – e se o padrinho dela for uma Anaconda! 


Diante das tantas especulações e novidades na disputa, não podíamos deixar de convocar uma reunião extraordinária da confraria para ouvirmos a análise e o prognóstico do nosso Analista dos Barés. Feita a convocação, todos reunidos, sai o primeiro comentário provocativo no grupo:  

- Vocês já estão sabendo né! O buchicho dos corredores é que “Lurdinha” é a mais cotada para ser a nossa Superintendente.

Ao ouvir esse comentário, nosso Analista dos Barés franziu a testa e, como sempre fazia, primeiro puxa o lenço do bolso, passa lentamente de um canto ao outro da boca, mete de volta o lenço no bolso, arruma o colarinho, e aí começa a falar:

- Vocês não vão me dizer agora que estão acreditando mesmo nessa sandice. Quem é esse visionário desatento que apareceu com essa história. Não tem o menor cabimento. Essa senhora resolveu sonhar alto demais. Com todo respeito, não tem cacife para ser a superintendente. Não adianta! Não vai emplacar! Se conseguir alguma coisa, se conseguir, é uma Adjunta e olhe lá. 

Para tocar logo fogo na discussão, alguém completa:

- Como não! A nomeação já é dada como certa. Só está faltando o chamegão do Lula.

- Peralá gente! Porra! Deixa de sacanagem. Vocês não vão querer agora me convencer dessa coisa inimaginável. 

A turma, vendo que a discussão ia prosperar, continuou insistindo que a nomeação de “Lurdinha” era dada como certa. Já estressado, o nosso Analista dos Barés perde a elegância natural e dispara:

- Seguinte, porra, dou meu cú na guarita se essa senhora for nomeada.

O espanto foi geral. Ninguém imaginava que o macho alfa do grupo, de repente, numa aposta, se dispusesse a dar o fiofó na guarita, caso Lurdinha vencesse a disputa pelo cargo de superintendente. Ficamos deveras preocupados. O prognóstico do nosso Analista dos Barés era que Lurdinha não seria nomeada. Assim, como tudo que ele prognosticava não acontecia, a chance de Lurdinha emplacar no cargo era real. O que tornava real também a chance do nosso Analista dos Barés ter que cumprir a infeliz promessa de dar o fiofó na guarita. Só restava então esperar os acontecimentos. 

Passaram-se poucos dias e “Lurdinha”, para surpresa dos incrédulos, foi nomeada. Imediatamente começou o cuchicho no grupo. E agora, como fica. Nosso Analista dos Barés vai ou não vai cumprir o que havia prometido com tanta convicção, caso Lurdinha lograsse êxito na sua indicação.

Nesse mesmo dia da nomeação, um dos amigos da confraria saiu da sua sala para fazer um xixi e encontra nosso Analista dos Barés no banheiro tirando a água do joelho. Lembrando da promessa que ele havia feito, posta-se ao seu lado, dá bom dia e, enquanto aliviava a bixiga, pergunta:

- E aí meu caro, já comprou a vaselina?

Cara amarrada, nosso analista retruca falando grosso – não entendi a sua pergunta.

Esqueci, depois a gente fala – respondeu o alemão da turma e foi saindo de mansinho. 

Depois desse episódio, o grupo continuou se reunindo ainda por um bom tempo, falando de politica e, obviamente, ouvindo atentamente as análises e prognósticos do nosso Analista dos Barés.

A única coisa que na realidade mudou dali para frente, e que nunca mais veio a acontecer, foi do nosso Analista dos Barés, em defesa dos seus prognósticos, colocar em risco outra vez o seu fiofó na guarita. 


O nosso Analista dos Barés era um ser humano especial. Cara de machão durão, mais de uma afabilidade que cativava os amigos. Vociferava muito, mas também sorria, brincava, dava gargalhadas e chorava. Com suas virtudes e defeitos, tinha o carinho de todos aqueles que o cercavam, Assim, não poderia concluir essa história sem dizer do meu imenso carinho por essa pessoa, que me tinha como filho, que ia todos os dias na minha sala para perguntar se eu estava bem, e que eu amava e respeitava como se meu pai fosse. Pena que não esteja mais aqui entre nós para relembrar e rirmos juntos de momentos da nossa confraria, que nem esse que acabo de relatar.