25 de abril de 2021

COLÉGIO DOM BOSCO - Inesquecíveis lembranças.

Lendo o livro de meu amigo e ex-aluno do Colégio Dom Bosco, Carlos Augusto Coutinho, onde ele nos conta um pouco da história da sua turma de 1979, e da qual muito me orgulho de ter sido professor, encontrei nele citado o nome de uma figura humana inesquecível - Padre Argentino Cescon. Quando ele chegou ao Brasil, em 1955, já como padre salesiano, eu estava apenas nascendo.

Eu fui aluno de Pe. Argentino no Colégio Dom Bosco. Era nosso professor de História, temido por ser um padre muito disciplinador e por não admitir brincadeiras em sala de aula.

Certo dia, depois da fila diária, dos avisos e da oração matinal no pátio comandada por Pe. Humberto, fomos mandados para a sala de aula. Chegando na sala, o que era muito raro de acontecer naquela época, o professor do primeiro tempo não havia chegado. Daí então começou aquela algazarra de sempre, com todo mundo falando alto.

Para azar nosso, na sala ao lado estava o Pe. Argentino. Ele veio até a nossa sala e pediu que fizéssemos silêncio. Na segunda vez que ele pede novamente para fazermos silêncio, alguém grita bem alto – pega!

Pe. Argentino Cescon

Daí Pe. Argentino já muda o tom e pergunta: 

- Quem foi que gritou?

Alguém responde – foi o ALON.

Pe. Argentino reage no ato e determina:

- Alon, se retire e vá para a sala de Pe. Humberto.

Outro gaiato, no meio da sala grita outro nome – foi o NOLA.

Pe. Humberto Vieira

Nesse momento, antes mesmo que Pe. Argentino dissesse algo mais, surge na porta da sala o temido conselheiro Pe. Humberto, que também era um dos nossos professores de português. Nos ensinava literatura e nos obrigava a decorar poesias valendo nota. Na sua aula de sábado cobrava a declamação e normalmente sorteava apenas 1 ou 2 alunos para declamar, entre mais de 30, todos desesperados para não serem escolhidos. Era um terror! Imagine decorar a poesia “ O Navio Negreiro”, de Castro Alves, e ganhar só nota 6 porque a declamação não foi como Pe. Humberto achava que devia ser. Faltou dar mais vida à poesia - dizia ele justificando a nota.

Voltando ao assunto principal, sabendo que não havia na nossa turma ninguém com o nome de ALON, tampouco NOLA, Pe. Humberto nos mandou sair de sala, voltar para o pátio e ficarmos perfilados. No término do primeiro tempo, voltamos para a sala com Pe. Humberto nos acompanhando. Todos já sentados, Pe. Humberto dá então o seu recado:

- No final do último tempo, ninguém saia de sala. Fiquem todos me esperando que eu virei entregar as cadernetas.

Quase 40 minutos depois do último tempo, Pe. Humberto aparece na sala com as nossas cadernetas e a sua inseparável sineta. Coloca tudo em cima da mesa e diz:

- Quem foi que gritou em sala quando o Pe. Argentino estava pedindo silêncio?

Todos permaneceram mudos. Ninguém na turma ousava dedurar outro colega.

Mais uma vez Pe. Humberto pergunta – vai aparecer quem gritou?

Da mesma forma que ele sabia que Alon e Nola não existiam, sabia também que não ia aparecer quem deu o grito. Mas, Pe. Humberto também tinha suas estratégias e sabia lidar e castigar a turma.

Na maior tranquilidade nos disse:

- Vou dar um tempo para vocês lembrarem quem foi que gritou. Volto depois do almoço e não me façam algazarra aqui. Recolheu as cadernetas, a sineta e foi embora para o almoço.

Com a turma da tarde já chegando e brincando no pátio do Colégio, volta Pe. Humberto com nossas cadernetas e repete a pergunta:

- Já sabem quem foi que deu o grito?

Era óbvio que não ia aparecer quem deu o grito. Ele sabia disso e já trazia todas as cadernetas com uma advertência escrita com tinta vermelha, com a ordem expressa de trazermos de volta no dia seguinte com a ciência dos nossos pais. Distribuía uma a uma e ia nos dispensando para sairmos da Escola. No caminho de volta para casa, morto de fome, barriga roncando e debaixo de um sol lascado, já ia matutando sobre qual explicação daria para a advertência na carteira. Na verdade perdi a conta de quantas vezes fiz isso.

Finalizando, Pe. Argentino e Pe. Humberto foram muito importantes na nossa formação humana, moral e intelectual. Também fizeram parte de muitos outros episódios como esse aqui contado e que marcaram as nossas vidas saudáveis na Escola. Pe. Argentino e Pe. Humberto lamentavelmente não estão mais entre nós, porém viverão para sempre em nossos corações.