3 de março de 2011

Pároco Paulo Pinto

A encenação que temos assistido em torno do episódio que envolveu o prefeito de Manaus e uma cidadã que vive numa área de risco da cidade, finalmente encontra alguém com coragem e determinação para falar um pouco do que está por trás de tudo isso. Lamentavelmente, outra vez essa situação é explorada exclusivamente dentro de um contexto político sórdido e perverso, onde alguns aproveitam a situação apenas para ganhar o máximo de visibilidade na mídia. Agora, todos querem ser vistos e fotografados como guerreiros ou guardiões protetores dos pobres, oprimidos, desassistidos e humilhados. Quero ver por quanto tempo isso vai durar, e até quando a Sra. Laudicéia vai continuar recebendo os afagos dos seus supostos protetores. Alguns deles não sabem ou nunca foram pelo menos ao local onde essa senhora vive em situação de risco, mas vão estar com ela, doa a quem doer, até quando for conveniente. É de praxe!

Para esclarecer melhor essa questão, surge então Padre Paulo Pinto, da paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, no Parque 10. Em artigo publicado no jornal Amazonas Em Tempo desta quarta feira, 02.03.2011, mostra um pouco do que acontece com essa questão das invasões e da ocupação de espaços inadequados ou áreas de riscos com a construção de moradia, como é o caso da cidadã que se desentendeu com o prefeito de Manaus. Se eu perguntasse a um amigo mineiro sobre o que ele acha do que escreveu Padre Paulo, a resposta seria tipicamente mineira: - esse padre é macho sô! Só falta agora os políticos anunciarem que o impeachment do Amazonino se estendeu ao Pároco Paulo, por querer expor as entranhas dos processos de invasões na nossa cidade.

O que Padre Paulo relata ter vivido, não mudou nada nos dias de hoje. As invasões continuam sendo um processo lucrativo para muita gente. Um balcão de negócios onde quem atravessa no meio para atrapalhar é intimidado de várias maneiras. Aliás, o método de puxar o 38 e bater no balcão para intimidar continua valendo e funciona. Se visitarem as invasões de áreas como da Carbrás ou do Distrito Industrial (Nova Vitória), só para citar dois exemplos, vão constatar que um número expressivo de invasores que se diziam sem terra e sem teto, excluídos, depois que sacramentada a invasão, simplesmente sumiram das áreas. Ajudaram a provocar o dano ambiental, depois venderam os lotes e com certeza estão agora engajados em novos processos de invasão, pois sabem que o sucesso é quase garantido, principalmente em anos de eleição.

O depoimento de Padre Paulo acaba sendo uma boa referência de tema para uma matéria jornalística investigativa, séria, dos processos de invasões em Manaus. Uma matéria para mostrar a realidade, apontar as mazelas e identificar os atores visíveis e invisíveis. Um tema interessante para tese de mestrado ou doutorado, de alguém que queira mostrar de forma honesta e transparente, o que existe por trás de toda essa encenação que temos assistido e que pelo jeito não vai parar nunca.