24 de junho de 2007

A CMM e o TRAQUE

Os jornais locais anunciaram que um vereador quase teve um enfarte depois que um colega lhe assustou com o estampido de um TRAQUE dentro do parlamento. Maravilha! Viva São João!
De cara lembrei do meu tempo de criança, quando minha irmã pedia dinheiro de nosso avô para comprar foguetes e ele muito sério dizia:
- Nada de bombinha, nem catolé - compre só estalinhos.
Para quem não lembra ou não teve infância, estalinhos nada mais é do que o tal TRAQUE, mas que a meninada do meu tempo preferia chamar de peido-de-velha. Uma outra diferença é que naquele tempo o traque servia para divertir as crianças e os adolescentes. Hoje, pelo noticiário, vem sendo aproveitado também para ocupar o tempo inútil de algumas autoridades que não sabem ou não encontram coisa mais apropriada para a própria idade e para o local de trabalho.
No meu entendimento, o que de fato chama a atenção nesse episódio é a resposta dada pelo vereador que levou o susto na brincadeira. Resumindo, segundo noticiário, disse o ilustre vereador que a CMM estava virando uma casa de moleques.
Gente! Cá entre nós... O cara podia estar nervoso com o susto e pode até ter exagerado no seu pensamento, mas com certeza não faltou com a verdade. Se ainda não é de fato, tem muita gente contribuindo consciente e inconscientemente para esse barco chegar lá – CMM (Casa de Moleques e Molecagem ou Casa de Malandros Moleques ou Moleques Malandros).
Traduzindo a declaração do vereador, significa o reconhecimento e a institucionalização do TRAQUE na Câmara Municipal de Manaus, que só agora assustou um deles (são mais de 30), mas que há muito tempo vem assustando, incomodando, irritando e envergonhando uma população inteira. Vejamos a seguir:
Tem o TRAQUE do sistema de transporte, onde a tarifa foi elevada e até hoje não houve nenhuma contrapartida em benefício dos usuários. É bom lembrar que a maioria silenciou diante do aumento, preferindo se juntar à tropa de choque do prefeito e aplaudir as suas promessas de licitação, novos ônibus, mais linhas, blá-blá-blá, blá-blá-blá e blá-blá-blá. E nada aconteceu! Silenciaram diante do espancamento de estudantes que foram para a porta da Prefeitura pedir explicações para o aumento da tarifa e, pasmem, muitos vereadores justificaram a atitude omissa com o discurso de que o protesto era um movimento político de estudantes moleques e baderneiros. Se os estudantes não venceram aquela batalha contra o aumento das tarifas, pelo menos aparece agora um vereador para deixá-los de bem e de alma lavada com a opinião pública, com a declaração e o reconhecimento explícito de que a molecagem e a baderna de que foram acusados os estudantes, tem vida e prática em outra morada (CMM).
Vamos ao TRAQUE da Lei Orgânica do Município, onde muita coisa séria não é cumprida, nem mesmo por parte dos vereadores que ocupam uma obra que até bem pouco tempo não tinha o HABITE-SE e que provavelmente continua sem. E daí! Quem vai lá fazer diferente? Se isso não é uma brincadeira, se isso não é mais um TRAQUE, do que vamos chamar?
E o TRAQUE da convocação dos secretários municipais para se explicarem das acusações do ex-secretário e escudeiro do Prefeito? Eu escrevi que isso era uma balela e que só havia duas alternativas: empurrar com a barriga até o povo esquecer ou arriscar convocar os secretários que não iam conseguir qualificar com seus depoimentos o ex-secretário de MENTIROSO. Antes do vexame a tropa de choque entrou em ação e: traque! traque! traque! – apertaram a descarga e mandaram a convocação para as profundezas do Rio Negro. Traduzindo: tudo bem gente! O cara (ex-secretário) ficou nervoso, falou o que não devia, apesar de ter falado a verdade, mas deixa isso para lá – o povo vai continuar reclamando, se envergonha, mas depois esquece!
E qual é o mais novo TRAQUE? Esqueceram o Orçamento Participativo que está sendo anunciado? O deste ano de 2007, que também foi anunciado como participativo, foi aprovado sem abrigar nenhuma emenda dos vereadores, que no ano passado empolgados foram para suas bases reunir com os eleitores e discutir as prioridades das comunidades, mas que no final terminaram todas atiradas no vaso. É ou não é um TRAQUE? O mais irritante agora é constatar certos vereadores bancarem o garoto propaganda do anunciado orçamento participativo depois de já terem ido à tribuna ou declarado publicamente que tal peça (orçamento participativo) é pura ficção (o mesmo que enganação).
Esses episódios aqui narrados não deixam dúvidas do quanto precisamos nos conscientizar de que, quando votamos, estamos diante de uma urna e não diante de um vaso. Se a coisa está ruim, nós temos a nossa parcela de contribuição. O que não significa dizer que todos os vereadores da CMM, por exemplo, sejam ruins. Pelo contrário! Tem gente boa, séria, competente, bem intencionada, mas que infelizmente sempre acabam assustados ou abatidos pela turma do TRAQUE.