25 de maio de 2020

O Estagiário

 Nos anos 90 o Superintendente da Suframa recebia muitas pessoas em seu gabinete, principalmente empresários de outras regiões e de outros países. Vinham conhecer a ZFM, a Suframa, e buscar maiores informações sobre as vantagens de se instalar e produzir em Manaus.

As audiências eram diárias, concorridas e as vezes demoradas. Quando a audiência era com visitantes estrangeiros, havia a necessidade de intérpretes, o que demandava um tempo maior de atendimento.

Certa oportunidade, um empresário brasileiro aguardava na recepção a sua audiência marcada para as 10 horas da manhã. Imaginando que a sua conversa com o superintendente demandaria no máximo 1 hora, marcou o seu retorno num voo que saia de Manaus no início da tarde.

A audiência que antecedeu a do empresário começou um pouco mais tarde e durou um tempo além da conta. Quando entrou no gabinete para conversar com o superintendente, o empresário discretamente já manifestou a sua preocupação com o horário do seu voo de retorno. Havia a exigência de se apresentar para o embarque 2 horas antes.

Vendo a inquietação do empresário, o superintendente cordialmente lhe colocou uma viatura do órgão para transportá-lo até o aeroporto assim que a audiência terminasse.

E assim aconteceu. Encerrada a audiência, a secretária do gabinete ligou para o setor de transporte para que uma viatura se deslocasse até a entrada da Suframa para levar o empresário até o aeroporto. O Sr. Moreira, motorista do próprio superintendente, foi designado para fazer o transporte. Pegou a viatura e se dirigiu até a escadaria na entrada principal da Suframa.

Chegando na escadaria, já estava lá uma pessoa de pé esperando. Imediatamente essa pessoa abriu a porta de trás do carro e entrou, sem dar uma palavra, nem mesmo um boa tarde. Como fora informado que ia levar alguém ao aeroporto que estaria atrasado para o voo, Sr. Moreira não pensou duas vezes e saiu no rumo do Eduardo Gomes.

Na descida da avenida em frente a Suframa, Sr. Moreira olhou pelo retrovisor e achou algo estranho no cidadão sentado no banco de trás, sempre de cabeça baixa. Já estava escabreado, pois o sujeito entrara no carro sem sequer dar boa tarde ou dito para onde iria. Já passando pelo Bairro do Japiim, o Sr. Moreira desconfiou de vez e resolveu interpelar o seu passageiro. Nesse momento, aproveitando que o carro estava parado esperando o sinal abrir, o suposto empresário simplesmente abriu a porta do carro e saiu numa desabalada carreira.

Só aí então Sr. Moreira deu conta que o seu passageiro não era a pessoa que deveria levar ao aeroporto. Quem estava no carro era um estagiário que trabalhava no gabinete ajudando nas atividades de secretariado.

Felizmente Sr. Moreira descobriu a tempo que estava com o passageiro errado dentro do carro. Retornou rápido à Suframa e, chegando na escadaria, lá estava o verdadeiro empresário ansioso esperando pelo transporte. Conhecendo bem os atalhos, conseguiu chegar a tempo do empresário embarcar no seu voo sem maiores dificuldades.

Essa é só uma das peripécias que marcaram a passagem do estagiário pela Suframa. Depois eu conto mais.