9 de fevereiro de 2019

Os Meninos do Flamengo


É inimaginável a dor da tragédia ocorrida com os meninos do Flamengo. É aterrorizante imaginar o desespero desses meninos procurando uma saída para escapar das chamas que consumiram o alojamento onde dormiam, se é que podemos chamar aquilo de alojamento. Inimaginável a dor das famílias que tiveram seus entes queridos levados dessa vida de uma forma tão cruel. Vidas e sonhos literalmente transformados em cinzas. Para as famílias das vitimas essa dor nunca mais vai passar.

Os meninos morreram dentro de containers transformados em alojamentos. Aquilo lá parecia mais um  arrumadinho para acomodar a  garotada. Virou moda aproveitar containers para outras utilidades. Aqui mesmo em Manaus, temos bares, salvo melhor juízo, até casas feitas usando estrutura de containers normalmente usados, descartados, etc. No calçadão da Ponta Negra você vai ver lá vários deles. Na bola do Coroado, salvo engano, tem um bar nesse estilo. Deus queira que todos estejam devidamente aprovados pela Prefeitura e licenciados pelos Corpo Bombeiros. Quem souber de alguma coisa que se manifeste.

No caso dos meninos do Flamengo, desculpem a sinceridade, mas, essa tragédia poderia ter sido evitada, se o clube de fato tivesse o cuidado indispensável com esses jovens, cujos pais lhe confiaram a guarda enquanto estivessem dentro do clube. 

É lamentável! As informações que só agora se tornaram públicas – revoltam! Causam indignação! O local onde plantaram o alojamento era espaço de estacionamento; os containers, transformados em alojamento/dormitórios, não tem projeto, não foi aprovado pelos órgãos competentes, não tinha Alvará da Prefeitura, não foram inspecionados e/ou aprovados pelo Corpo de Bombeiros. Pior, o clube já havia sido notificado e multado várias vezes por irregularidades. Em resumo, dirigentes e autoridades foram omissas em seus deveres e contribuíram, sim, para essa tragédia que vai marcar a história do futebol do Flamengo, do Rio de Janeiro e do Brasil. O mundo deve estar perplexo diante das circunstâncias que levaram esses meninos a perderem suas vidas.  

Deus permita que essa tragédia desperte as autoridades. Desperte os dirigentes de clubes deste país, que buscam os meninos em suas casas e levam para seus centros de treinamento, para prepara-los não só para o sucesso dentro de campo, mas também para o sucesso do clube com conquista de títulos e faturamento de muito dinheiro na venda de seus jovens craques. Pensem quanto lucrou o Flamengo com o menino craque, Vinicius, vendido para o Real Madrid.  

Importante que os pais de jovens jogadores de futebol, despertem também diante dessa tragédia. Aqueles pais, cujos filhos estejam entregues aos clubes e vivendo em Centro de Treinamento, cobrem, investiguem e confiram em que condições efetivas estão vivendo seus filhos. Que as autoridades, os dirigentes do clube, não só lamentem essa tragédia. Envergonhem-se da omissão praticada, peçam perdão a Deus e às famílias enlutadas, e trabalhem para que não volte a acontecer.    

27 de janeiro de 2019

MINERAÇÃO NO AMAZONAS - não custa alertar e cobrar...

Estamos diante de mais uma tragédia por conta do desmoronamento de uma barragem de mineração. É muito dolorido ver as cenas de mortes e de tanta destruição. Outra vez em Minas Gerais, onde existem dezenas, centenas de outras barragens que não sabemos de nada sobre suas condições de uso e segurança. De praxe, só ficamos sabendo de alguma coisa quando acontecem as tragédias e que cinicamente querem nos convencer depois que foram acidentes da natureza. Respondendo a essa tentativa imoral, lembro Henfil, quando dizia que até podemos ser bobos, mas não somos otários.

Essa é a segunda tragédia no Estado de Minas Gerais e ainda não deram conta de responder aos compromissos e responsabilidades com o meio ambiente e com as famílias vítimas da primeira. Responsabilizado e preso não temos ninguém, com certeza, até prova em contrário. Mas, são muitas as famílias prejudicadas e enlutadas que ainda não receberam todos os seus direitos. Parte, acredite, vai morrer sem ter tido a chance de ver de fato reconstruída  a sua vida depois da tragédia. 

Dito isso, é bom lembrar que temos MINERAÇÃO em território amazonense. É bom lembrar que também existem por aqui as BARRAGENS com seus riscos fatais, letais, mortais... O cidadão, aqueles moradores que vivem ao alcance dessas barragens, provavelmente pouco ou quase nada sabem  sobre as condições de operação e segurança dessas construções. Imaginem! A barragem que agora desmoronou em Brumadinho estava desativada e dizem que havia passado por uma inspeção feita por empresa e profissionais habilitados. Ora, que merda de inspeção foi essa? 

E as nossas autoridades locais? O que elas teriam a nos dizer das condições das barragens em território do Amazonas. Quantas são elas? Lembrei dos nossos nobres políticos, fiscais do povo, será que eles acompanham esse tipo de situação para não termos que agir só depois da desgraça? Nas áreas habitadas ao alcance dessas barragens, pergunto: - os moradores são orientados e preparados para enfrentar uma situação de desmoronamento? Por acaso existe algum tipo de alerta? Se existe, funciona? Insisto, pois, em Brumadinho o alerta dizem que existia, mas,  desgraçadamente, não funcionou. Que merda né!

Vamos reagir! Vamos sair da inércia. Vamos exercer a nossa cidadania a favor da vida e da prevenção de tragédias como essa. A solidariedade nesse momento  é ótimo, é lindo demais de ver... Nosso povo é divino e dá exemplos ao mundo. Mas, agora, a nossa indignação e as cobranças das autoridades tem ecoar bem mais alto, bem mais forte, bem mais tudo. Eu, você e tantos outros, estamos longe do alcance das barragens, não passamos pela dor da perda de entes queridos e de bens materiais que foram conquistados com tanto sacrifício pelas famílias vitimadas,  mas, sofremos com os impactos dos danos ambientais, e sofremos com a dor dilacerante de  nossos irmãos brasileiros atingidos por essas tragédias que estão acontecendo por negligência e irresponsabilidade humana. 


8 de janeiro de 2019

CÃO & CRIANÇA em supermercado...



 Uma pessoa da família estava fazendo suas compras no ATACK em Manaus quando, de repente, foi interpelada e em seguida convidada a se retirar do supermercado. O motivo do convite foi o seu cachorro de estimação "Theo", que estava com ela dentro de um mochila própria para transportar o animal. Repito, o cachorro estava limpo, é vacinado, dócil e estava sendo transportado dentro de uma mochila e não no chão acompanhando os donos. 

Ora, se existe uma norma que proíbe cachorro dentro do supermercado, ótimo, vamos respeitá-la. Regra é regra, não se discute. Mas, gostaria de saber qual é regra desse supermercado, quando crianças pequenas, muitas ainda de colo, são colocadas e conduzidas dentro de carrinhos do supermercado totalmente sujos, imundos e contaminados por todo tipo de bactérias prejudiciais a qualquer criança, principalmente. 

Se a administração do supermercado está atenta para convidar o cliente a se retirar pelo fato de estar com um cachorro dentro de uma mochila, porque será que não está atenta também aos clientes adultos para convidá-los a retirar as suas crianças de dentro dos carros de supermercado, primeiro pelos motivos mais graves já expostos, segundo porque o carrinho de supermercado não é feito para transportar crianças, muito menos para o papai ou a mamãe cinicamente garantir o acesso ao caixa especial. Sem falar quando essas crianças resolvem urinar nos carros e não se sabe depois se esses carros são devidamente lavados e higienizados. 


25 de novembro de 2018

Vamos Dançar!


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Dia desses mandaram-me um vídeo no facebook relembrando o tempo em que dançávamos de rostos colados nos bailes da vida. Eram tempos bons que não voltam mais e que me fazem lembrar do Moranguinho do Ideal, do Bancrévea, do Cheik Clube, do Sambão da União Esportiva Portuguesa e de outros lugares da minha cidade de Manaus, onde vivi uma infância e uma adolescência de muitas alegrias e encantos.

Falando em dançar, na minha juventude lembro de ser um pouco tímido. Confesso que tinha uma certa dificuldade nas festinhas e bailes para chegar junto de uma paquera e convidá-la para dançar, apesar de saber que o máximo que poderia receber era um “não” ou a desculpa manjada “estou esperando o meu namorado”.

Um colega de rua dessa época, dizia-me que não tinha nada a perder durante um baile. Se tentasse tirar 10 gurias para dançar, e só uma aceitasse ir para o salão, computava como conquista. Eu rodava o salão inteiro a procura de alguém com quem simpatizasse para convidar para dançar. Quando isso acontecia, no meio do salão, ao som das músicas românticas daquela época, vinha a fase da conquista, a troca de olhares, o sussurro no ouvido, aquele abraço mais apertado a cada música tocada pela banda, o rosto colado, o beijo consentido ou aquele beijo roubado que normalmente era muito mais gostoso. Por fim, a saída do baile de mãos dadas e o beijinho de despedida até o próximo encontro já ansiosamente esperado. No caminho de volta para casa, íamos os amigos conversando e contando uns aos outros as conquistas. Era muito divertido, pois, até aquele que não pegou ninguém no baile, fantasiava uma conquista para contar. 

Voltando ao vídeo que mencionei, na verdade ele me trouxe à memória um fato muito curioso que aconteceu comigo e que lembro com saudade e alegria.  Já mais maduro, atravessando a casa dos 30, fui morar na cidade de Rio Branco, capital do Estado do Acre, levado por uma parceria entre o Governo do Estado do Acre e a Instituição em que trabalho até os dias de hoje.

Cheguei em Rio Branco sem conhecer praticamente ninguém. Rapidamente me apaixonei pela cidade e pela sua gente. Digo sempre que sou amazonense de nascimento e acreano de coração. Num certo dia de fim de semana, uma pessoa com quem havia feito amizade, apareceu onde eu morava para cumprir uma promessa – levar-me para conhecer um pouco da noite de Rio Branco.

O primeiro destino foi o 14 BIS.  Um ponto de encontro tradicional e bem frequentado, que ficava ao lado do aeroporto da cidade. Ao chegarmos no estacionamento, começou a cair uma chuva. O tempo fechou e, conhecendo bem as chuvas na região, não tínhamos dúvidas que era uma chuva que poderia ser ligeira ou durar a noite inteira.

Apesar do tempo ruim, resolvemos sair do carro e procurar uma mesa protegida da chuva. O amigo pediu uma cerveja e, para matar a fome, pedimos batatas fritas e uma isca de carne. Terminada a segunda garrafa de cerveja, apesar da boa comida, do bom papo e da boa música ao vivo, o amigo sugeriu que fôssemos a um outro local. Voltamos ao carro e fomos então rodar por outros bares da cidade. Por conta da chuva, todos tinham pouca gente, o que não nos animava a parar. Já por volta das 11 da noite, o amigo bate no volante, vira para mim  e diz:

- Seguinte! Só resta agora uma opção. Vou ti levar para conhecer o SBORBA. Eu acho que você vai gostar – tenho boas amizades por lá, inclusive com os garçons que me dão tratamento VIP e me ajudam nas conquistas.

Descreveu-me como sendo um clube frequentado por coroas, ou seja, casais, senhores e senhoras já de certa idade. Quis saber o que ele queria dizer com – os garçons me ajudam nas conquistas. Disse-me que os garçons não só investigavam como revelavam a ele o nome das coroas que estavam na sua mira de conquista, assim como faziam o trabalho de pombo-correio, entregando os bilhetinhos chamados de “torpedo”, normalmente escritos em lenço de papel e com a caneta emprestada do garçom. 

Sobre esses torpedos, que merece um capítulo à parte, o detalhe é que eles partiam tanto dos coroas, como das coroas em busca de suas conquistas. Era uma estratégia usada em todos os lugares de encontro, inclusive por jovens. Dada a minha timidez, o torpedo passou a ser uma de minhas ferramentas de aproximação e conquista. Mandei muitos e recebi alguns inesquecíveis. Entre os recebidos, um deles trouxe-me a seguinte mensagem: – se procurar vai me achar e, se me achar, sou toda tua.  Em resumo, procurei, achei e deu tudo certo naquela noitada. 

Voltando ao SBORBA, chegando lá fomos muito bem recebidos já na entrada e levados para a mesa cativa que meu amigo tinha preferência quando por lá aparecia. Na verdade, pelo tratamento que recebemos, concluí que ele era um frequentador assíduo do local e muito querido. Assim que sentamos, logo em seguida veio o garçom trazendo uma garrafa de whisky, que depois fiquei sabendo também que era do consumo pessoal desse amigo. Ele pagava pela garrafa inteira e ia consumindo até acabar. 

Apesar dos apelos, recusei a ideia de tomar uma dose da garrafa de whisky. O garçom, tentando me animar, sugeriu que tomasse misturado com coca-cola, mas também não me convenceu. Acontece que eu não bebia nem bebo whisky de qualquer natureza. A explicação é que, ainda adolescente, inexperiente, durante um dia de carnaval em Belém, na companhia de primos, dei aquela bobeira, tomei um porre maluco e até hoje whisky para mim tem gosto de perfume – intragável!

Apesar da chuva, o SBORBA estava com uma frequência boa. Gostei muito do local, do ambiente, da música  e principalmente do tratamento recebido. Por conta disso, tive a curiosidade de saber um pouco mais daquele local tido como tradicional da cidade. Sborba – Sociedade Beneficente dos Operários de Rio Branco, foi fundado em 1948. A sede fica no centro da cidade e, salvo engano, foi tombada como patrimônio histórico pelo governo do Estado do Acre. É um ponto turístico da cidade e um dos mais visitados. 

No momento em que o amigo me passava mais detalhes do clube, de repente sinto uma mão pousar com  delicadeza sobre o meu braço direito. Virei a cabeça para ver do que se tratava e, de pé bem ao meu lado, uma senhora simpática e sorridente, lança-me o convite: 

- Vamos dançar?

Pô, nunca ninguém tinha me tirado para dançar. Foi um impacto. Mas, não titubeei e respondi no ato: 

- Com todo prazer!

Fomos para o salão onde 99,99% dos casais que dançavam era de coroas, todos de ótimo astral e exímios dançarinos. Proporcionavam um show à parte. A maioria dos olhares presentes estavam direcionados ao bailado dos casais que estavam no salão. Envergonhado, puxei a minha parceira para o centro do salão tentando ficar meio escondido dos olhares de avaliação e reprovação. Na base do 2 para lá, 2 para cá, o único passo de dança que eu sabia usar, fui procurando dar conta do recado. 

O tempo foi passando e aquilo que parecia agradável e diferente para mim, começou a ficar complicado no salão. Minha parceira não desistia e nem dava sinal de querer dar uma pausa. Uma pequena pausa para descansar e eu voltaria para o salão com ela com todo prazer. No papo de pé de ouvido, tentei jogar algumas indiretas, mas a parceira queria mesmo era dançar e nisso as acreanas são nota 10. Entretanto, de minha parte, sedentário convicto desde a faculdade, as pernas começaram a falhar e a direita já dava sinal de fadiga e ameaça de câimbra na batata. Era o vexame se anunciando. Mas, de repente, a parceira sussurra no meu ouvido a frase mais esperada: 

- Quando você quiser parar é só me avisar. 

Ufa! Senti um tremendo alívio. Mas, educadamente, esperei a música acabar de tocar. Sem ousar perguntar se ela queria dançar mais uma antes de parar, já fui puxando-a para fora do salão. Saímos em direção da mesa do meu amigo. À distância, já percebi que ele não estava mais à mesa e nem a garrafa de whisky. Na minha cabeça só veio um pensamento: - cansou de me esperar, achou que eu tinha me dado bem e resolveu ir embora. Já chegando próximo à mesa, a parceira me diz animada: 

- Lá está o seu amigo na mesa com minhas amigas. Olhei e lá estava ele de fato conversando animadamente com as 3 senhoras. Pouco depois que levantei da mesa para dançar, ele pegou a sua garrafa de whisky e foi à mesa dessas senhoras, dizendo-se solitário e pedindo companhia. 

Fui apresentado às três coroas e, durante o papo que foi até a última música daquela noite, revelaram que tinham tirado no par ou ímpar para decidir quem ia me convidar para dançar. Quando perguntei porque uma delas não foi tirar o meu amigo para dançar, responderam  que já conheciam ele de outras festas e sabiam que não gostava ou não sabia dançar. O papo foi em frente pelo resto da noite, com muita alegria e boas gargalhadas. Uma delas, com um repertório enorme de piadas, divertia-nos não só com as piadas, mas principalmente com a maneira de interpretá-las. Digna do que hoje chamamos de comédia stand-up. 

Na saída do clube, uma chuva fina continuava a molhar a cidade, com aquele friozinho tradicional e gostoso da região acreana. As novas amigas não estavam motorizadas e não cabiam todas no carro de meu amigo. Como eu estava morando nas proximidades do Sborba, meu amigo deixou-me primeiro e voltou para buscá-las e  leva-las até suas casas.

Depois desse episódio, voltei outras duas ou três vezes ao Sborba. Num desses retornos tive a oportunidade de reencontrar esse grupo simpático e alegre de amigas. Dois para lá, dois para cá, a verdade é que já se passaram mais de 30 anos e eu guardo com enorme carinho, para sempre, a lembrança daquele dia muito especial, na companhia breve de pessoas que nunca tinha visto na minha vida, mas que me proporcionaram algumas horas impagáveis de descontração e de alegria que jamais serão esquecidas.  Vamos dançar!...