27 de fevereiro de 2017

50 anos da SUFRAMA



A SUFRAMA, administradora do projeto ZFM, completou 50 anos. De repente, como servidor, aos 62 anos de idade a ficha cai e eu dou conta de que estou nessa casa há mais de 30 anos, ou seja, mais da metade de minha própria existência. 

Formado em Engenharia Operacional, cheguei na Suframa na gestão do Coronel Igrejas Lopes e, logo em seguida, veio o Dr. Roberto Cohen. Não passava pela minha cabeça, por exemplo, a ideia de que, 30 anos depois, eu iria ter como colega de trabalho, aprovado no concurso de 2008 da Suframa, o meu próprio filho, Luiz Frederico de Aguiar. 

A Suframa é uma parte da minha vida e muitos capítulos da minha história pessoal. É a continuação da minha casa e, como costumo dizer aos antigos e novos colegas de trabalho, é a nossa eterna Escola, pois aqui aprendemos alguma coisa todos os dias.

Nesses 50 anos de existência do projeto ZFM e da Suframa, muitas coisas aconteceram e marcaram a Instituição. Eu, pessoalmente, entendo que a década de 90 é a mais marcante, pois mostrou a força do projeto ZFM e a grandeza dos servidores e colaboradores que dão vida à Suframa e à administração desse que é considerado o mais importante e único projeto de desenvolvimento regional que deu certo na Amazônia. 

Critica-se muito o projeto ZFM, mas, sinceramente, o que seria do Estado do Amazonas sem a ZFM? O que seria desse Estado, sem tradição agrícola ou agropecuária, onde a extração madeireira era uma das atividades preponderantes e onde a madeira de várzea explorada pela indústria em várias regiões vinha sendo devastada sem nenhum controle das autoridades? Sinceramente, dá para acreditar que as leis ambientais criadas ao longo desses 50 anos impediriam o Amazonas de estar devastado como estão outros estados da região?  

O projeto ZFM obviamente que não foi criado para proteger as nossas florestas. Porém, hoje, todos comemoram o fato do Amazonas dispor de mais de 90% da sua cobertura florestal preservada.  O Brasil e o Mundo devem esse resultado ao projeto ZFM.    

Falando da década de 90, os primeiros anos foram muito preocupantes. O projeto ZFM, criado dentro de um modelo econômico de substituição de importações, de repente se vê diante de um processo de abertura da economia pelo Governo Collor. Era tudo o que os inimigos da ZFM queriam e passaram a comemorar. Naquele momento muitas pessoas, inclusive internamente na Suframa, acreditavam e apostavam que seria o fim do projeto ZFM. Tudo parecia contribuir para isso. O comércio importador deixava de ser atrativo para os turistas domésticos consumidores e a indústria do Polo Industrial de Manaus, na opinião dos especialistas, não iria conseguir competir com os produtos estrangeiros importados que, além de mais modernos, chegavam mais baratos nas prateleiras do comércio.  

Esse foi no meu entendimento o momento mais difícil e ao mesmo tempo de maior aprendizado. A Suframa até então era uma mera administradora de incentivos fiscais e, de repente, com a abertura da economia nacional, ficou à deriva, sem uma convicção do que efetivamente fazer, tampouco qual rumo tomar. Diante de uma nova realidade econômica, surgia internamente a necessidade de se repensar a Suframa, definir a sua missão e os seus objetivos como Instituição. Assim, em 1994, assistimos nascer o primeiro Planejamento Estratégico da SUFRAMA, na administração do Superintendente Manuel Silva Rodrigues.

Com a abertura da economia, presenciamos o polo industrial de Manaus iniciar um processo de modernização e automação de suas linhas de produção. Era instituída a política do PPB.   Saíamos de uma política industrial intensiva de mão-de-obra, para uma política intensiva de tecnologia. Ao mesmo tempo que algumas empresas começavam a bater recordes em seus faturamentos, constatava-se uma redução drástica na mão-de-obra total do Polo Industrial de Manaus. Era o homem sendo substituído pela máquina. O mais dramático era assistir que a nova indústria que nascia no polo industrial exigia uma mão-de-obra mais especializada/qualificada e Manaus não estava preparada para atender essa demanda, exigindo que as indústrias fossem recrutar parte dessa mão-de-obra em outros centros.       

Quando as coisas pareciam começar a melhorar veio o incêndio da sede da Suframa, em maio de 1994. Esse episódio marcou muito a todos aqueles que se dedicam com afinco a essa Instituição. Nessa ocasião eu estava residindo em Rio Branco, no Estado do Acre, participando de um acordo de cooperação técnica com a Prefeitura de Rio Branco, contribuindo com a implementação da sua secretaria de planejamento municipal. Morava numa casa alugada com dois amigos arquitetos. Logo cedo fui acordado por um deles dizendo-me que o jornal da manhã da TV estava anunciando que a sede da Suframa havia sido destruída pelo fogo. Levantei assustado com a notícia e fui conferir na TV o que de fato havia acontecido. Ao ver as imagens da destruição da sede e alguns colegas desolados, inertes diante daquela cena terrível, confesso que não deu para conter o choro e a imensa tristeza. Era como se eu tivesse perdido para o fogo a minha própria casa e esse certamente foi o sentimento de todos os outros colegas naquele momento.

Desse episódio, lembro até hoje de um comentário que eu ouvi em Rio Branco de uma pessoa que dizia que a ZFM só existia para o Amazonas e só servia a Manaus. Disse ele – “se ainda faltava alguma coisa para o fim da ZFM, esse incêndio veio para transformar tudo em cinzas”.  Outras pessoas pensavam da mesma forma, tinham seus motivos, mas vamos deixar para comentar mais adiante.

Apesar da tragédia e da tristeza que tomou conta do sentimento de servidores e colaboradores naquele maio de 94, a Suframa não podia parar, os clientes da indústria e comércio da ZFM não podiam ficar sem atendimento aos seus serviços. A resposta veio rápida, numa demonstração de amor, de garra, determinação e espírito público dos seus dirigentes, servidores e colaboradores. Internamente, vivenciou-se uma mobilização de guerra para que os serviços de atendimento ao comércio e à indústria do polo industrial não fossem totalmente prejudicados. Depósitos, corredores e até banheiros do prédio anexo da Suframa foram transformados em gabinetes e salas de trabalho. Uma situação que perdurou por alguns anos até a reinauguração da sede principal da Suframa, em 1999. Fala-se muito até hoje da causa e da origem do sinistro, mas quase nada se diz do trabalho, do tempo, do esforço e do sacrifício desprendido por servidores e colaboradores para resgatar a Instituição das cinzas.

Desse período é importante deixar registrado o nosso reconhecimento a uma turma de colaboradores da Fucapi que já não estão mais na Suframa. Em 2014, mais de duas centenas de colaboradores, muitos deles com mais de 20 a 25 anos de trabalho dedicado à Suframa, deixaram a Autarquia por força do encerramento do contrato com a Instituição ao qual estavam vinculados, no caso a Fucapi. Foram colaboradores que dedicaram uma vida de trabalho à Suframa, que tiveram uma participação nobre em várias etapas da vida da Instituição, que exerceram suas atividades como leais e abnegados servidores fossem, e que sempre honraram e dignificaram o nome da Autarquia.        

Na segunda metade da década de 90 tivemos também um fato importante que ajudou muito a mudar a imagem da SUFRAMA perante os Estados vizinhos da Amazônia Ocidental. Havia um entendimento generalizado naquela ocasião de que o projeto ZFM era bom exclusivamente para o Amazonas, em particular para Manaus. A aplicação dos recursos arrecadados pela Suframa concentrava-se no Estado do Amazonas, em detrimento aos demais Estados da Amazônia Ocidental, cujos governadores e prefeitos de capital integram o Conselho de Administração da SUFRAMA na condição de conselheiros. Essa situação causava desconforto político e um distanciamento entre a Suframa e os Governos Estaduais da Amazônia Ocidental, principalmente nas ocasiões em que o apoio político desses Estados era decisivo para a defesa dos interesses do Polo Industrial de Manaus no Congresso Nacional. Era comum se ouvir que a Suframa só se aproximava dos demais Estados da sua área de atuação quando estava em jogo os interesses da indústria da ZFM, cujos benefícios diretos e indiretos se concentravam no Estado do Amazonas.            

Com relação a essa questão, certa vez ouvi o desabafo de um Conselheiro que dizia não aguentar mais viver de pires na mão pedindo recursos à Suframa e ouvir em troca conversa fiada e falsas promessas. Nas reuniões do CAS, dizia o Conselheiro - eu abandono os afazeres do meu Estado, pago a passagem, pago a hospedagem se tiver que pernoitar em Manaus, vou para a reunião do CAS ouvir discursos, bater palma para os projetos industriais que se instalam no Distrito Industrial de Manaus e para dezenas de convênios milionários normalmente beneficiando os municípios do Amazonas, e retorno sem trazer nada do que foi prometido ser atendido por meio de convênio ao meu Estado.

Essa na verdade era uma queixa generalizada. Por conta disso surgiu o entendimento de que o projeto ZFM era bom só para o Amazonas, em particular para Manaus. Dentro da própria Suframa havia um grupo que defendia a ideia de que os recursos arrecadados pela Autarquia vinham das indústrias instaladas no Distrito Industrial, assim, entendiam como justo que esses recursos deviam ser destinados prioritariamente a projetos de desenvolvimento no Estado do Amazonas, em detrimento dos outros estados que integram o projeto ZFM.

Ciente desse tratamento injusto com os demais Estados, em 1996, na administração de Mauro Costa, foram estabelecidos pelo CAS critérios mais igualitários de repartição dos recursos da Suframa, tornando mais justa a distribuição dos investimentos em projetos via convênios na sua área de atuação, priorizando os projetos voltados à pesquisa, ensino e extensão, estudos, promoção das exportações e infraestrutura, com vistas a interiorização do desenvolvimento. A partir dessa decisão, durante as reuniões itinerantes que aconteciam nos Estados parceiros, era gratificante assistirmos as autoridades locais apresentarem as melhorias que eram realizadas em seus respectivos Estados a partir de projetos financiados com recursos da Suframa via convênios. Lamentavelmente essa política de distribuição dos recursos da Suframa há muitos anos é prejudicada pela política de contingenciamento de recursos do governo federal.   

Foi também na década de 90 a criação do Centro de Biotecnologia da Amazônia – CBA, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, Recursos Hídricos e da Amazônia Legal e Ministério da Ciência e Tecnologia. Mas, esse é um tema interessante, polêmico e que merece um comentário inteiro à parte e em outra oportunidade.
Várias outras coisas aconteceram nessa década de 90, mas vou parar por aqui e  continuar em  outro momento.

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