5 de setembro de 2008

ESQUINAS e PORTA-BANDEIRAS

Dia esses, parado numa dessas esquinas movimentadas de Manaus, fiquei observando o movimento ao alcance dos meus olhos e indagando a mim mesmo: - Como é que algumas pessoas conseguem permanecer horas de pé numa esquina de rua, debaixo de um sol de mais de 40 graus, empunhando um mastro com uma bandeira com a cara estampada de um candidato a prefeito ou vereador?

Essas pessoas ficam ali durante horas, submetidas a todos os tipos de poluição sonora, da pele, dos olhos, das vias respiratórias, dos pulmões, etc. E não bastasse isso, ainda têm que suportar aquele cabo eleitoral cheio da moral, que fica lá de longe, escondido na sombra do poste, gritando e exigindo mais animação da turma de porta-bandeiras.

É uma cena muito curiosa. Contrastando com a cara dos candidatos que estão estampadas nas bandeiras, normalmente sorridentes ou mutiladas, a porta-bandeira de pé na esquina não consegue, coitada, sorrir nem dos galanteios e xavecos que recebe das pessoas bem humoradas que passam pelo local. Quando são intimadas a mexer as cadeiras ao som dos jingles dos candidatos, ai então só você vendo para acreditar!

Se você ainda não observou essa cena – faça isso! Acredite! - é algo no mínimo interessante. Muita daquelas bandeiras que estão ali tremulando nas esquinas, pelo perfil dos donos das caras nelas estampadas, é jogar suor e energia fora. Terminada a eleição, os mastros se transformarão em carvão e as bandeiras vão ser aproveitadas quem sabe em algo mais útil – um bom pano de chão, toalha para enxugar cachorro, lenço para limpar mão de mecânico, etc. Como a compra, a confecção desse material e o serviço de porta-bandeira não sai do bolso dos candidatos (essa é a única coisa certa e transparente nesse cenário), é óbvio que nenhum deles está preocupado com o destino a ser dado a esse material, porém jamais vão perder a chance de ver suas caras tremulando nas bandeiras espalhadas nas esquinas da cidade, como se fossem verdadeiros pop-stars.

A verdade é que esse tipo de contratação e serviço em época de campanha eleitoral, que dizem ser organizado, bem pago e de carteira assinada, mereceria um estudo. Já soube que boa parte das pessoas que estão ali trabalhando nas esquinas como porta-bandeira, nunca viu de perto o candidato (a) com a cara estampada na sua bandeira. Muitas delas provavelmente dirão até que nem precisa conhecer, pois diante da maquininha na urna, a única foto que não vão querer ver aparecer na telinha é exatamente aquela da bandeira. A não ser que exista um esquema muito bem tramado que não permita ao porta-bandeira exercer a sua vontade e ter que obrigatoriamente votar em quem lhe pagou para trabalhar nas esquinas.

Como vivemos no Brasil e na política brasileira jabuti sobe em árvore, jacaré nada de costa e boi voa, é bom ficarmos com a barba de molho. E que Deus nos proteja, dando aos brasileiros e em particular aos amazonenses, mais juízo e responsabilidade na hora de consagrar o seu voto. Já está na hora de começar a mudar a cara do Brasil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário