10 de julho de 2010

Barraco na Patagônia!

Sétimo dia da viagem de férias. Apesar da alegria da vitória do Brasil contra o Chile, o grupo estava triste. Não íamos poder assistir ao jogo do Brasil com a Holanda, o que acabou sendo um alívio para todos nós, pois o abatimento com a notícia da derrota foi bem menor. No ônibus, cruzando a cordilheira dos Andes debaixo de chuva, rumo à fronteira do Chile com a Argentina, o guia chileno nos informou do gol de Robinho no primeiro tempo, o que nos deixou eufóricos. Mas, ao chegarmos à fronteira, em Puerto Frias, veio a triste informação de que a Holanda havia virado o jogo. De cara ninguém acreditou. Imaginávamos que fosse uma brincadeira dos argentinos. Mas, logo em seguida veio a confirmação da derrota. A guia que ia seguir conosco na viagem pelos lagos Frias e Nahuel Huapi, rumo a Bariloche, uma argentina baixinha e muito patriota, exibia orgulhosa um lenço nas cores da bandeira argentina em volta do pescoço. Vendo a tristeza dos turistas brasileiros, procurava na verdade disfarçar a sua alegria com a nossa desclassificação. Só não imaginava que no dia seguinte a sua seleção ia ser atropelada e massacrada pela Alemanha. Bem feito!

A curta viagem pelo Lagos Frías e Nahuel Huapi foi maravilhosa, bela e inesquecível. As águas estavam tranquilas, sem chuva, o que nos permitia apreciar a paisagem nos mínimos detalhes. Nos fez esquecer completmente a inesperada derrota do Brasil. O que na verdade tanto eu como o grupo inteiro não conseguia esquecer por nada, foi a noite anterior vivida em Peulla, ainda no Chile, onde pela primeira vez tomei sozinho uma garrafa inteira de vinho. Tudo por conta de uma confusão que começou com um sacarolhas! Exatamente isso gente – um sacarolhas! Mas, deixem-me contar desde o início a história desse barroco patagônico em que nos metemos.

Em Puerto Veras (Chile), o guia local nos adiantou um pouco sobre o que iríamos encontrar em Peulla, que seria a nossa próxima parada antes de atravessarmos para território argentino. Alertou-nos para o fato de que por lá (Peulla) não íamos encontrar nada para comprar. Foi mais além! Disse ainda que se desejássemos tomar um vinho na única noite em Puella, animados pelo fortíssimo frio abaixo de zero, que tratássemos de comprar em Puerto Veras para levar. O grupo ficou animado, pois todos já haviamos comprado vinho em Santiago, aproveitando a interessante visita ao vinhedo da tradicional empresa Concha y Toro.

Na única noite no belo e confortável hotel de Peulla, o grupo se reuniu para jantar já pensando depois buscar outro local para degustar os vinhos comprados em Santiago. Uma noite que começou animadíssima, com a turma relembrando os bons e divertidos momentos da excursão. Natasha, a advogada paulista do grupo, sempre muito bem humorada, comandava a alegria na cabeceira da mesa, despertando inclusive a atenção das outras pessoas que também jantavam no restaurante. Terminamos o jantar e decidimos nos mudar para outro ambiente do hotel, onde havia inclusive uma lareira que não estava funcionando. Considerando que não havia nenhum outro hóspede ocupando aquele espaço, decidimos então que íamos ficar ali para degustar o nosso vinho.
(Hotel em Peulla, no Chile - De frente para as Cordilheiras)
As mulheres do grupo se encarregaram de buscar o vinho nos apartamentos, pedir as taças e um sacarolhas para abrir as garrafas. O garçom veio com o sacarrolhas em mãos, mas, em tom mal humorado, foi logo dizendo que não poderíamos beber vinho naquele ambiente, sem pagarmos pela “rolha”. Ora bolas, tínhamos consciência dessa regra. Todos nós sabemos que é de praxe esse procedimento em todos os hotéis. O que deixou surpreso e chateado o grupo foi o tom mal humorado do garçom ao dar o seu recado. Não foi nada cortês. Ao contrário! Foi muito deselegante e grosseiro. Estávamos apenas seguindo a recomendação do guia de Santiago, que havia nos recomendado levar vinho para Puella, caso desejássemos aproveitar bem a noite fria que íamos passar. Era exatamente o que queríamos fazer.

O barraco patagônico, inesperado, na verdade só estava começando. Renata, uma baixinha simpática, mas também decidida e invocada, a quem o garçom se dirigiu para dar o seu primeiro recado mal humorado, pediu a ele que pelo menos abrisse as nossas garrafas para que pudéssemos em seguida ir tomar o vinho em um dos nossos aposentos no Hotel. Novamente, em tom mal humorado, o garçom respondeu com gestos e palavras que fossemos rápidos, pois eles (garçons) já iam embora dormir. Renata, já nervosa, mas ainda sem perder a paciência, pediu então ao garçom que nos deixasse o sacarolhas para que pudéssemos abrir as garrafas à medida que fossemos degustando os vinhos trazidos de Santiago. Foi aí então que o garçom mal humorado, agora em tom de ironia, pediu a Renata que não se esquecesse de devolver depois o sacarolhas. Era exatamente o que faltava para a baixinha Renata perder as estribeiras e rodar a baiana para nenhum chileno botar defeito. Levantou, encarou o garçom (um metro mais alto do que ela) e disse a ele que não só ia ficar com o sacarolhas, como levá-lo embora dentro da bolsa. O tempo fechou! A outra baixinha, Natasha, que já havia conseguido as taças para tomarmos o vinho, entrou na briga e foi direto ao balcão do hotel questionar com a gerência o tratamento que o garçom estava dispensando ao grupo. O gerente do hotel foi chamado. Um sujeito tremendo vaselina. Se fazendo sempre de desentendido, repetia feito papagaio que a proibição e a cobrança da rolha são de praxe em todos os hotéis. O gerente bobão sabia perfeitamente que a confusão toda não era por conta da cobrança da rolha, mas por conta do tratamento grosseiro dispensado pelo seu garçom, diferente do funcionário do balcão de recepção que se portou sempre como um gentleman em todos os instantes.
(Vista das Cordilheiras - da janela do apartamento em Peulla/Chile) 
Para terminar o barraco, decidiram nos ceder o sacarolhas e as taças para tomarmos o nosso vinho em paz. Seguimos para o apartamento do casal Renata e Antônio, de onde tínhamos a melhor paisagem e de onde só saímos depois de secar as garrafas de vinho que carregávamos. De frente para as montanhas congeladas das Cordilheiras, numa noite de frio abaixo de zero grau, ficamos eu, minha esposa Adriana, casal Antonio e Renata, casal Cristiano e Ana e mais Natasha, conversando como se já fossemos velhos e conhecidos amigos de longa data. Brincamos e rimos muito relembrando os fatos mais divertidos e interessantes até aquele instante da nossa viagem de férias. No problems! No stress! Just joy! Uma noite para ficar guardada para sempre na nossa memória e em nossos corações. Para mim, particularmente, uma noite inclusive inédita, pois pela primeira vez tomara uma garrafa inteira de vinho sozinho, sem enrolar e sem ficar de porre. Tomei um vinho doce, feito de uvas ditas de colheita tardia, segundo a nossa colega de grupo, Natasha. Quem quiser provar, aqui vai a dica: Vinho chileno CONCHA Y TORO Late Harvest Sauvignon Blanc Valle Maule.

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