18 de setembro de 2006

Pacientes Enganados!...

Chamou-me a atenção os depoimentos dados ao Jornal A Crítica, pela Sra. Sheila Maria Sales e pelo presidente do CRM, Sr. José Bernardes, na matéria cujo título já não é mais nenhuma novidade entre aqueles que dependem do atendimento médico público – Pacientes Enganados!...
A Sra. Sheila Sales na realidade expressa o sentimento de boa parte das pessoas que dependem exclusivamente do atendimento público. Disse ela para a reportagem:
– O jeito é ir com qualquer médico. Pelo menos para ter a receita do remédio.
O destaque maior a fazer é que ela (Dona Sheila) não estava e não está buscando atendimento especializado para a sua própria saúde, mas para o seu filho de apenas 9 anos de idade, num pais chamado Brasil, cujas autoridades enchem o peito para dizer que possui a melhor e mais moderna legislação do mundo em termos de amparo, apoio e proteção à infância e adolescência. No papel sem dúvida é tudo uma maravilha. Mas na prática é uma verdadeira enganação. Está aí o exemplo de Dona Sheila, mendigando de um lado para outro um atendimento especializado para uma criança, mas tendo que se contentar em ter pelo menos a receita de qualquer médico que lhe aparecer pela frente, de modo a ter pelo menos a medicação. É lamentável, pois com certeza outras mães devem passar pela mesma humilhação e vexame.
Na mesma matéria o presidente do CRM destaca que é normal que o médico especialista seja substituído pelo clínico geral. Resumindo, disse ele - O importante é que a população não fique sem atendimento.
Eu não questiono o entendimento do presidente do CRM, mas coloco em dúvida a competência e a responsabilidade de alguns profissionais que fazem o atendimento nos postos públicos. E vou contar aqui um caso muito recente.
Sentindo-se mal, a filha de minha empregada doméstica, de nome Francilene, foi buscar atendimento no posto médico do Alvorada (SPA). Foi acompanhada de sua mãe, Dona Fátima. Lá chegando foi atendida pela médica de plantão que, após ouvir as queixas da paciente (Francilene), determinou a realização de um raio X, ficando constatada a presença de água na pleura. Em seguida pediu um exame de sangue, ficando a paciente medicada e internada a noite inteira naquele posto médico (SPA).
No dia seguinte, aparece um outro médico (houve troca de plantão) trazendo em mãos o resultado do exame de sangue de Francilene. Para surpresa tanta da paciente como de sua mãe, o médico informa que o problema dela era só uma ameba.
Mãe e filha tentaram argumentar com o médico, mostrando o Raio X que havia sido feito e que a médica do plantão anterior que fez o atendimento inicial, havia diagnosticado que Francilene estava com água na pleura. Perfeitamente justa a preocupação da paciente e de sua mãe. Afinal qual era o diagnóstico confiável, verdadeira – água na pleura? Ameba? Ou as suas coisas?
Pressionado o médico passou a vista no exame de Raio X e disse que era um equívoco, ou seja, não havia nada de água na pleura, era apenas ameba, conforme demonstrava o exame de sangue que ele tinha em mãos. E ficou por isso mesmo. A paciente foi liberada para ir para casa, levando consigo um receituário para tratamento de ameba.
A paciente (Francilene) e sua mãe saíram do posto médico do Alvorada inconformadas e sem acreditar no diagnóstico final. Entendiam que as dores que ela (Francilene) sentia no corpo não poderia ser resultado apenas de uma crise de ameba. Felizmente tiveram a iniciativa de procurar atendimento em outro local. Foram para o 28 de Agosto, onde foi feito um novo Raio X e um novo exame de sangue. O Raio X confirmou a água na pleura e o exame de sangue não atestou a existência da tal ameba. Em seguida a médica do 28 de Agosto fez o encaminhamento para o Cardoso Fontes, onde Francilene iniciou o tratamento correto.
Concluo dizendo que o presidente do CRM tem razão em parte. O importante é que a população receba o atendimento, mas se for um atendimento do tipo que acabo de relatar, significa dizer que a população vai estar sempre jogando com a própria sorte, em função do mal atendimento e de diagnósticos vergonhosamente equivocados. Felizmente Francilene e sua mãe tiveram a iniciativa de buscar socorro imediato em outro posto médico. Amém!...

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