2 de novembro de 2009

Fio de Bigode!


Quando criança, ouvi muitas vezes minha saudosa avó Graziela, meus pais e tios conversarem sobre uma coisa que eles chamavam de “fio de bigode”. Depois de algum tempo é que fui entender direito do que se tratava. Antigamente, quando duas pessoas resolviam fazer um acordo ou um pacto, isso era feito na base do fio de bigode, ou seja, não precisava de documento assinado, presença de testemunhas ou juramento em nome de Deus ou de Nossa Senhora. O fio de bigode bastava. Velhos bons tempos!

Mas, por qual motivo estou eu aqui relembrando do tal fio de bigode? Eu explico!

Há duas semanas passadas eu recebi um telefonema no meu trabalho. Era a minha esposa do outro lado da linha que, com a voz ofegante e preocupada me dava a seguinte notícia:

- Bateram o nosso carro! Pixote veio me avisar e eu estou indo agora ver o que aconteceu.

Bateu muito – perguntei já preocupado.

- Não sei! Segundo o Pixote, bateu muito sim.

Tá bom! – disse a ela - vá com calma e em seguida me dê retorno.

Pixote, um dos atores desse episódio, é o guarda-carro, famoso “flanelinha” que fica na Praça do Congresso e toma conta dos carros das pessoas que trabalham nas proximidades. Minha esposa adquiriu confiança nele e sempre lhe gratifica para limpar e ficar olhando o nosso carro, enquanto ela trabalha.

Passado alguns minutos a minha esposa ligou de volta para dizer que havia amassado a lataria em cima da roda dianteira, mas que a pessoa que bateu o carro tinha ido embora sem esperar que ela chegasse.

Como foi embora! – já perguntei irritado pensando no prejuízo financeiro fora de hora.

Calma! – respondeu a minha esposa. É que ele trabalha externo aqui nos Correios. Eu falei com outra pessoa, que parece ser o chefe dele. Ele me pediu desculpas e disse-me que quem bateu o nosso carro está aprendendo a dirigir. Mandou-me fazer o orçamento, pois a pessoa que bateu vai pagar o prejuízo.

- Você acha que isso vai dar certo? – Já perguntei com a desconfiança de que íamos levar um cano daqueles. O cara bate o nosso carro, desaparece do local e manda outro resolver por ele. Isso não existe! Lembrei de um fato recente. Um amigo meu teve o seu carro batido na hora do rush, o sujeito que bateu não fugiu, assumiu o erro, deixou um cartão com o número do celular e mandou que fosse feito o orçamento. No dia seguinte, quando meu amigo ligou para informar o valor do orçamento, o sujeito simplesmente respondeu que analisou melhor o acidente e concluiu que não tinha tido culpa. Por conta disso, mandou meu amigo assumir o seu prejuízo ou então buscar seus direitos na justiça. Sujeito pacífico, da paz, como dizem, meu amigo absorveu o golpe e não quis levar a confusão adiante.

Para encurtar a minha história, o sujeito que bateu o nosso carro no dia seguinte foi procurar a minha esposa no local do trabalho. Foi lá pedir desculpas pelo problema causado e reafirmar o seu compromisso de pagar o serviço de recuperação da batida. Ufa! Que alívio! Nem sei quem é o sujeito, tampouco sei o seu nome, daí a minha disposição de escrever esse comentário para dizer que queimei a minha língua. Achei que íamos levar um cano e ter que apelar para o seguro. Mas, felizmente ainda existem pessoas que agem como naquele tempo do fio de bigode. Pois é! Nesse mundo cão que estamos vivendo, pelo jeito nem tudo está perdido.

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