Quando vejo alguns amigos lutando
desesperadamente para se libertarem do cigarro, fico imaginando que hoje eu poderia ser um deles. Meu falecido pai fumava - e não era pouco. Minha mãe
fumava, mas felizmente deixou de lado o vício. Meu saudoso avô morreu com mais
de 90 anos e fumava diariamente o seu cigarrinho numa boa.
E eu, quando o assunto é cigarros,
o que foi que deu errado?
Apesar de
fumante inveterado, meu pai não apoiava essa ideia na vida dos filhos. Estava
sempre atento e marcava de perto. Não dormia enquanto eu não chegasse das
festinhas. Ficava na janela fumando o seu cigarro e de olho no relógio.
Conferia e cobrava o horário que pactuava comigo para estar em casa. Cumprir o
horário para estar em casa na sexta-feira, era a garantia de ganhar a permissão
para sair também no sábado. Eram outros tempos.
Eu, na verdade, bem que tentei ser fumante.
Nas noites de sexta-feira e sábado, antes de sair para as festinhas,
principalmente as festinhas que aconteciam no bairro de Aparecida, passava no bar da esquina
de casa e comprava um maço de cigarros Hollywood e uma caixa de fósforos. Hollywood
era a marca do momento. As propagandas de cigarros naquele tempo eram
fantásticas. Chegar à festinha do bairro com maço de Hollywood no bolso fazia a
diferença. Eu, pelo menos, achava que fazia a diferença.
Assim que comprava o maço de
cigarros, abria a carteira, acendia um cigarro e já subia a Ramos Ferreira
fumando, rumo ao Bairro da Aparecida. Antes de chegar à festinha, acendia o
segundo cigarro. Chegar com o cigarro aceso tinha algum significado que eu não
sei dizer qual era até hoje. Mas, uma coisa era certa. Servia para que os
filões de cigarros se aproximassem para pedir. O filão cara de pau não se
contentava em pedir só um cigarro. A cada cálice da batida “calcinha de seda”,
o filão ficava mais sem-vergonha e vinha atacar a minha carteira de cigarros. Mas,
tinha um detalhe importante: eu não reclamava. Eu dava os meus cigarros com o
maior prazer, independente se o filão era conhecido ou não. Aliás, conheci muitos
amigos filando os meus cigarros.
Na hora de voltar para casa já
não tinha mais um único cigarro na carteira Hollywood, da qual, pasmem,
normalmente só fumava de 2 a 4 cigarros, no máximo. Restava apenas a caixa de
fósforos com alguns palitos dentro, que eu tinha sempre o cuidado de me
desfazer dela antes de entrar em casa. Não queria que meus pais desconfiassem de
nada, principalmente de cigarros. Apesar de fumantes, eles com certeza iam
pegar no meu pé. Ora se iam!
Como meus amigos estão vendo, eu
bem que tentei ser um fumante. Felizmente não deu certo!
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