6 de fevereiro de 2007

Tiros de Baladeira (II)

Para que serve o Vice?
O vice-prefeito de Manaus recebeu um grupo de estudantes e marcou uma audiência para discutir a planilha de custo da passagem de ônibus que, ele próprio, pasmem, ainda não sabia que já existia um decreto definindo a nova tarifa. No dia da audiência os estudantes foram recepcionados na prefeitura pela polícia de choque, convocada com certeza com a anuência do prefeito. Enganados, os estudantes protestaram e terminou em confronto, com alguns estudantes sendo espancados. Enganar e ser enganado, prometer e não cumprir, que já é comum entre os políticos, não é a mesma coisa para os estudantes, tampouco para a sociedade. O que entre eles é praxe, para os estudantes e o povo é motivo de revolta. Mas a pergunta é: enquanto os estudantes apanhavam, onde andaria o vice, com quem a audiência foi marcada? Nada disso teria acontecido se ele estivesse lá para cumprir ou pelo menos acompanhar a audiência prometida. Afinal, para que serve o vice?
Palavra de vice (1)
Confiantes na promessa do vice-prefeito de que colocaria os técnicos da Prefeitura para discutir em detalhes a planilha do preço da passagem, os estudantes se prepararam. Buscaram apoio inclusive de especialistas nessa área. Foram para a audiência armados do conhecimento formado em torno do assunto. Só não esperavam que no lugar de debater com os técnicos da prefeitura, iriam enfrentar os cassetetes da polícia de choque plantada na porta da Prefeitura. Nada justifica a violência ou a tentativa de invasão da Prefeitura, mas nada daquilo teria acontecido se a palavra empenhada do vice-prefeito valesse alguma coisa.
Palavra de vice (2)
O vice-prefeito alega que comunicou ao prefeito da audiência que ele havia acertado com os estudantes. Em resposta, teria ouvido do prefeito que tudo já havia sido resolvido numa reunião com os estudantes. Ora, se tudo já estava resolvido, por que então a polícia de choque para recepcionar o grupo de estudantes que confiaram na palavra do vice-prefeito? Na hora marcada para o debate, o vice-prefeito estava em casa, o prefeito com certeza no gabinete acompanhando as notícias sobre os números de espancados e feridos, e os estudantes ficaram lá fora apanhando da polícia. O passado de luta do vice-prefeito não merecia essa mácula. Tudo por conta de um suposto mal-entendido entre o vice e o prefeito, que resolveram brincar de "mal ou bem" (um não fala direito com o outro) e de esconde-esconde (o que um faz o outro não pode ficar sabendo).
Justificativa sem-vergonha!
Para justificar o espancamento de estudantes na porta da prefeitura, que lá foram para discutir a planilha de custos do preço da passagem, em audiência previamente marcada com o vice, o prefeito tenta desmoralizar o movimento estudantil, usando do argumento de que são desorganizados ou estudantes querendo fazer política. Ainda bem que temos estudantes, organizados ou não, querendo fazer política, pois os que aí estão, dito por eles próprios, é o que de pior já existiu em toda a história da república. Nunca nos envergonhamos tanto da nossa classe política. A renovação - em todos os sentidos e em todos os poderes - é a única saída para o Brasil. Em hipótese alguma apoiamos a violência, seja de que lado for, só não podemos desencorajar a juventude de fazer política, de lutar pelo que eles acreditam, pois o Brasil politicamente só tem uma saída - renovação!...
Espancamento!
A ação da polícia de choque não surpreende. Eles estavam lá para cumprir ordens. Bater se necessário. E foi o que fizeram. Batem para valer e quando batem - batem sem pensar. Se pensassem, com certeza não bateriam. Se pensassem um pouquinho lembrariam que depois que tiram a farda e guardam o cassetete, o primeiro movimento que fazem é ir para a parada mais próxima esperar um ônibus para ir para casa. Lembrariam que seus filhos fazem exatamente a mesma coisa e pagam um preço que não justifica o serviço que é prestado. Lembrariam que também ajudam a pagar 150 milhões por um sistema falido que a atual administração está desmontando e que até hoje ninguém teve a coragem de colocar em pratos limpos. A coragem para colocar a polícia de choque para bater em estudantes, não é a mesma na hora de enfrentar outros adversários.
Quem avisa - amigo é!
A comunicação da prefeitura classificou de mal entendido o que levou os estudantes a apanharem da polícia. Eu diria que explica, não justifica, mas preocupa. Do jeito que vai essa relação de amor e ódio e de mal entendidos entre vice-prefeito e prefeito, a coisa é muito preocupante. Qualquer movimento que quiser uma audiência com o prefeito, para não correr o risco de ser recebido pelo batalhão de choque, é bom não marcar nada por intermédio do vice-prefeito. Ele (vice) passa o assunto para o prefeito, que diz que está tudo resolvido, depois o primeiro vai para casa, o segundo se tranca no gabinete e lá fora a polícia baixa o cassetete nos manifestantes revoltados por terem sido enganados e não atendidos. Fechando o ciclo, volta a comunicação da prefeitura e diz que tudo foi mais um mal entendido, até que venha o próximo episódio.
Omissão!
Uma boa parte dos estudantes que estavam no movimento em frente a prefeitura, são pessoas que não precisariam estar ali, pois a maioria possui condução própria. Estavam na verdade exercendo a sua cidadania e buscando proteger o interesse das minorias, que não podiam estar ali protestando, pois precisam trabalhar. Os estudantes buscam fazer aquilo que boa parte da CMM tem se omitido de fazer ultimamente. Renderam-se na questão do orçamento e estão se rendendo na questão da nova tarifa de transporte. Houve uma audiência pública convocada nas carreiras para tratar da nova tarifa e lá os nobres representantes do povo não apareceram. É a conveniência política e partidária falando sempre mais alto, o que não é nenhuma novidade. Existe exceção, obviamente, mas é a minoria da minoria. Se a prefeitura aceitou rever esse assunto que já tem decreto definindo valor e data para começar, foi por conta da pressão da população e de movimentos como dos estudantes. Tentaram empurrar pela goela do usuário a nova tarifa, mas pelo jeito não deu certo.

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